Lobo-da-Tasmânia (Thylacinus cynocephalus) 1936 † |
O dia 07 de setembro é sempre lembrado, especialmente – e obviamente – por estas bandas, como o dia em que o Brasil declarou sua independência da Coroa Portuguesa. Mas é também o dia de um personagem esquecido no tempo: Benjamin.
Você provavelmente nunca ouviu falar em Benjamin. Alguns podem se lembrar de algum personagem histórico, como o político e cientista americano Benjamin Franklin, conhecido por suas notáveis experiências com a eletricidade.
Mas não, não é a este Benjamin que me refiro. O Benjamin a quem direciono a atenção no momento, tal qual o cientista, também merecia nossa atenção – embora nunca a tenha recebido. Pus o verbo no passado porque, também como aquele, este já não se encontra mais entre nós. Morreu.
Sozinho. Numa jaula.
Embora praticamente ninguém saiba que este Benjamin sequer existiu algum dia, ele é o símbolo do fim de uma era, que se iniciara milhões de anos antes e que, precisamente naquele dia, chegava a um fim trágico, terrível, sombrio... e – pior de tudo – que ninguém dera a menor importância.
Benjamin, o último lobo-da-Tasmânia. |
Hoje, 07 de Setembro, marca o dia em que Benjamin, o último lobo-da-Tasmânia vivo, foi encontrado morto, sozinho em sua jaula, no zoológico de Hobart, na Tasmânia, em 1936, a exatos 75 anos. Era o último exemplar de uma espécie outrora abundante e pujante na ilha, mas que foi implacavelmente perseguida e caçada por ser uma "ameaça" aos europeus colonizadores da ilha, que chegaram lá milhões de anos depois dos lobos, mas que já eram naturalmente donos absolutos de tudo de vivo que havia por lá.
O pobre animal foi massacrado porque era "suspeito" de atacar ovelhas, embora hoje em dia considera-se que, muito provavelmente, jamais tenha sequer tocado em uma. Uma pesquisa recente sugere que ele não tinha mandíbula nem musculatura capaz de matar um animal tão grande. Ou seja, ele não era ameaça aos rebanhos. Na verdade, o animal foi um bode expiatório para os reais motivos para a perda do gado ovino: má gestão, secas e ataques de cães. O governo australiano então aproveitou sua semelhança com o lobo europeu para jogar nele a culpa. Assim, orquestrou-se uma campanha de extermínio implacável de caráter oficial contra o lobo-da-Tasmânia. Tudo planejado, com sistema de recompensas e tudo.
A linha vermelha mostra a foto que foi divulgada. |
A própria morte de Benjamin pode ser considerada surreal, de tão inacreditavelmente estúpida. O animal simplesmente morreu de hipotermia, porque esqueceram-se de abrir a porta interna da jaula que dava para seu abrigo. Ele morreu de frio, no final do inverno australiano.
Mesmo que não tivesse morrido naquele dia, ou o tivesse feito mais tarde, não havia mais o que fazer. Era o último.
Depois dele, outros tantos milhares de Benjamins de outras espécies morreram, sem sequer terem sido identificados, ante à sanha sanguinária da espécie humana, a quem foi dado o direito "divino" de reinar sobre todas as criaturas vivas (Gênesis 1:26-28 e Salmos 115:16), permitindo inclusive sua aniquilação total. Somente neste mês, que mal começou, até agora, às 18:05h, já aniquilamos inacreditáveis 500 espécies. Se considerarmos apenas hoje, já foram 55. Neste exato momento, com certeza mais um Benjamin acaba de desaparecer da face da Terra.
E, tal como aquele, também ninguém sabe. E, mesmo que tenham chance de saber...
... não darão a menor importância.
Nossas homenagens – e desculpas – a Benjamin.
Matamos todos.
Matamos todos.
Atualmente existem projetos de clonagem, similares aos que tentam ressuscitar o mamute, que visam recriar o lobo-da-Tasmânia. A 03 anos, um consórcio de cientistas australianos e americanos conseguiram reativar, em ratos, um gene obtido a partir de material conservado em formol. É um começo... mas mostra o quanto a humanidade NÃO previne, mesmo quando a catástrofe é óbvia e iminente. Sempre foi assim, e sempre vai ser.
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