domingo, 22 de julho de 2012

O Infinito


Mapa mais completo do Universo que a humanidade conhece.

Se vamos começar, antes de mais nada faz-se necessário explicar que tudo acerca de nosso conhecimento sobre o universo é relativo à nossa posição atual. A Terra  –  bem como o Sistema Solar e a própria galáxia  –  NÃO É o centro do cosmo. Isto era verdade incontestável até o Séc. XVI, quando Nicolau Copérnico colocou o Sol como ponto central do universo. Ele também estava errado. Todo mundo que arrisque um palpite está, porque ninguém sabe onde fica esse centro. Então, o universo conhecido se refere ao que NÓS podemos ver com nossos instrumentos.

O tamanho (estimado) apenas do universo observável é de 93,4 bilhões de anos-luz de ponta a ponta. Isto equivale ao super-hiper-ultra-mega-giga-maxi-colossal número de 431.787.752.667.754.000.000.000km – ou 431 sextilhões, 787 quintilhões, 752 quatrilhões, 667 trilhões e 754 bilhões de quilômetros. Ufa! Trata-se de um número impossível até de se imaginar. Se começássemos a contá-lo a cada segundo desde o momento em que nascemos, demoraríamos quase 14 quatrilhões de anos pra terminar, e isto é quase 1 milhão de vezes a própria idade do cosmo, estimada em 13,7 bilhões de anos.

Calcula-se que existam incríveis 100 bilhões de galáxias no universo – cada uma com mais de 100 bilhões de estrelas (algumas chegam à casa das dezenas de trilhões, como IC-1101). Noves fora, chegamos ao total de 10 sextilhões de estrelas, desde as minúsculas como Gliese 229-B até as monstruosas como VY Canis Majoris. Se você pegar um grão de areia e colocá-lo à sua frente no céu noturno, ele preencherá o mesmo espaço de 10 mil galáxias e 1 quatrilhão de estrelas. As primeiras ondas de rádio emitidas pela humanidade no laboratório de Heinrich Hertz, em 1887, estão agora a 1,88 quatrilhão de quilômetros de distância (aproximadamente 0,001% do tamanho do cosmo).

Em 1996, astrônomos posicionaram as câmeras do Telescópio Espacial Hubble para um ponto aparentemente vazio do espaço sideral, próximo da constelação de Fornax, e tiraram uma foto. Era um espaço minúsculo, do tamanho de uma bola de tênis a 100m de distância  –  ou um grãozinho de areia que estivesse grudado em seu polegar, com o braço esticado à sua frente. Pois apenas neste ponto desprezível a fotografia revelou inacreditáveis 03 mil galáxias.

Isso mesmo, galáxias inteiras, cada uma com dezenas de bilhões de estrelas, como a nossa Via Láctea. Quem sabe o que pode ter por lá, ocorrer por lá... viver por lá? Seria possível alguma forma de vida com tecnologia semelhante ter apontado seus instrumentos para cá e ter visto algo similar – uma imagem com milhares de galáxias em que uma delas fosse a nossa Via-Láctea – e ter se feito exatamente as mesmas perguntas?
A imagem, batizada de Hubble Deep Field, mudou radicalmente a forma como compreendemos o universo, e é por isto que ela é considerada a mais importante já tirada em toda a história da humanidade, e você pode conferi-la abaixo.


Em 2004 a experiência foi repetida, desta vez apontando o Hubble para a constelação de Orion. Dessa vez 10 mil galáxias foram registradas. Esta nova foto ficou conhecida como Hubble Ultra Deep Field, e representa a imagem mais distante do universo que o ser humano já conseguiu captar. É ela que você vai ver agora.


Mais distante e mais antiga, pois esta imagem também é uma volta no tempo. E que volta! Como sua profundidade chega a 13 bilhões de anos-luz e o universo tem idade calculada em 13,7 bilhões de anos, trata-se de uma imagem de 400/800 milhões de anos após o Big-Bang! O universo era um pirralhinho ainda. Percebeu a diferença de nitidez? Desde 1990 o Hubble já teve sua tecnologia substituída e renovada inúmeras vezes. É por isso que, mesmo muito mais distante, a 2ª imagem é muito mais nítida.

A maior medida espacial que existe é o gigaparsec, que equivale a 01 bilhão de parcecs – que por sua vez, equivalem individualmente a 3,26 anos-luz. Na verdade, não existe razão para existirem medidas maiores, pois calcula-se que o raio do universo observável possua """apenas""" 14 gigaparsecs. Mas a partir de agora vamos usar a já citada medida do ano-luz, para fins de facilitação e melhor compreensão do texto.

A maior estrutura existente no universo (ao menos a que conseguimos descobrir até o momento) é um super-aglomerado de galáxias conhecido como Grande Muralha Sloan. Ela foi descoberta em 2003 e possui 1,37 bilhão de anos-luz de comprimento. De novo, trata-se de um número impossível de ser compreendido. Saiba que nossa galáxia, que ainda está MUITO longe de ser totalmente mapeada, tem "míseros" 120 mil anos-luz de diâmetro. Ou seja, ridículos 0,0072% do tamanho da muralha... como eu disse antes, sequer dá pra imaginar algo tão grande. Esta estrutura  encontra-se a 01 bilhão de anos-luz de nós que, se não moramos na maior estrutura da existência, podemos nos orgulhar de morar na 02ª maior: o  superaglomerado Pisces-Cetus, que tem 01 bilhão de anos-luz de tamanho.
Detalhe de uma das mais ricas regiões do
Superaglomerado Pisces-Cetus: o
aglomerado A-168
.
Superaglomerados são, como o próprio nome diz, aglomerados de aglomerados de galáxias. Como tudo no universo, estão em expansão constante, distanciando-se uns dos outros e aumentando de tamanho, pois seus aglomerados (e consequentemente as galáxias destes) também o estão. A exceção até o momento é o superaglomerado de Shapley que, por ter uma unidade gravitacional interativa, está contraindo ao invés de expandindo.
O universo é cheio de estruturas ainda totalmente desconhecidas pelo homem. Mas muitas das conhecidas ainda são completamente misteriosas. Um bom exemplo é o chamado Vácuo de Eridanus, que tem 500 milhões de anos-luz de tamanho e é uma das regiões mais frias do universo conhecido. Não que o universo não seja inteiro gelado (quanto mais longe de qualquer astro, mais frio ele é), mas esta região é a mais fria registrada até o momento: -270,5ºC, 2,5 graus acima do zero absoluto. Uma teoria afirma que ele pode ser um portal para um universo paralelo.

Continuando nossa viagem, chegamos ao Superaglomerado de Virgo (Virgem), um monstro com 110 milhões de anos-luz e mais de 100 aglomerados galácticos incluindo o nosso, que tem o mesmo nome e é um pouco menor: 30 milhões de anos-luz. Embora ambos ainda tenham tamanhos colossais, tratam-se de uma ninharia perto de onde começamos nossa viagem. E depois dele chegamos à nossa próxima grande unidade de medida: o iotametro (equivalente a 105,7 milhões de anos-luz, ou 32,4 milhões de parsecs, ou ainda 01 sextilhão de quilômetros).
Aglomerado galáctico de Virgo.
Entramos agora ao aglomerado em que vivemos, cujo nome é totalmente sem graça e  bastante desmotivador: Grupo Local. Nada daqueles nomes legais em latim... sacanagem pô! Mas enfim,  existem nele cerca de 30 galáxias, e as duas maiores são Andrômeda e a nossa, a Via-Láctea. Ambas estão separadas por 02 milhões de anos-luz e aquela é o objeto mais distante que somos capazes de enxergar a olho nu (embora pareça-se apenas com um minúsculo e quase indistinguível borrão escuro no céu noturno). Mas embora sejam consideradas galáxias grandes, são bastante pequenas comparadas às gigantes que já conseguimos encontrar.
A maior de todas é a IC-1101, do aglomerado Abell 2029, que tem 05 milhões de anos-luz, sendo 56 maior do que a nossa. Na verdade, o aglomerado todo se resume praticamente a ela. Possui mais de 100 trilhões de estrelas, 400 vezes mais que a Via Láctea (que tem "só" 250 bilhões). Graças a ela, o aglomerado Abell-2029 emite nada menos que 02 trilhões de vezes mais luz que o nosso Sol. Talvez seja possível detectá-lo em qualquer ponto do universo, observável ou não. E sabe quanto é isso? É o mesmo que acender 1.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000 de lâmpadas...

Não é brincadeira. Não sei se existe nome para este número embora, como se tratam de 13 trios de zeros, posso arriscar que seja 01 duodecilhão.

Inacreditável, não? Agora chegamos ao território das galáxias. Tirando a já citada IC-1101, que é hours concours, outra galáxia monstruosa é a NGC-4889, também chamada de Caldwell-35 (500 mil anos-luz), seguida por tantas outras, um pouco menores mas igualmente colossais.
Você deve estar olhando as imagens e se perguntando: por que cargas d'água elas são todas espiraladas? Não são. Na verdade as galáxias possuem uma infinidade também de formas e cores, não apenas tamanhos. As maiores são de fato quase todas espirais, mas se recrudescermos um pouco mais, veremos galáxias um tanto bizarras,  como as curiosas "galáxias-girino", que possuem uma "cauda" longa (longa MESMO, de muitas centenas de milhares de anos-luz) muito provavelmente em decorrência de sua colisão ou raspagem com outra galáxia num passado inimaginavelmente remoto.
E isto, na realidade, não é algo inédito entre as galáxias. Na verdade, existem uma série de exemplos similares, acontecidos e ainda acontecendo. As maiores galáxias do grupo local são a nossa e Andrômeda, e ambas estão em rota de colisão. Dentro de alguns bilhões de anos trombarão, e isto pode até significar o nosso fim (se você é fã do blog, já deve ter lido a respeito aqui).
Depois das galáxias gigantes temos as medianas, que medem menos de 100 mil anos-luz de diâmetro.

A essas alturas você já deve ter percebido que não coloquei nenhuma imagem da Via Láctea. E isto tem um motivo: não existe imagem da Via Láctea. Não de verdade. Sabemos que se trata de uma galáxia espiral, mas tudo o que temos são concepções artísticas do que ela pode se parecer. Contudo, não se entristeça: você mesmo pode vê-la! Vá até um local distante das insuportáveis luzes da cidade numa noite de céu bem limpo, e perceberá uma linha larga e pálida cortando o infinito de horizonte a horizonte. Pois é, voilà!

O arco da Via Láctea, visto do Observatório de Cerro Paranal, no Chile.
Mas como disse, não adianta tentar fazer isso no meio da cidade de São Paulo ou qualquer outra cidade que tenha iluminação muito farta. Precisa de ausência total de luz artificial para observar ela ou qualquer outro corpo celeste de forma minimamente decente.
A Via Láctea mede pouco mais de 01 zetametro,  nossa próxima grande medida espacial (equivalente a 105,7 mil anos-luz, ou 32,4 mil parsecs, ou ainda 01 quinquilhão de quilômetros).

Descendo um pouco mais, agora vamos conhecer as galáxias chamadas de anãs. Elas até são visíveis sem o uso de instrumentos, mas seu tamanho seria desprezível, como alguns pixels na tela do seu computador. Por ser uma das mais próximas de nós, a mais conhecida é a Grande Nuvem de Magalhães  que é considerada uma galáxia-satélite da Via Láctea, e só tem grande no nome porque está perto de uma outra galáxia ainda menor, chamada... Pequena Nuvem de Magalhães, que tem a metade de seu tamanho (07 mil anos-luz). Mas isto não a torna integrante do grupo das galáxias medianas. Cosmicamente falando, estas galáxias são tão pequenas que mais se parecem com nuvens mesmo, amontoados de estrelas, disformes e sem uniformidade estrutural alguma, geralmente no papel de meros satélites das galáxias maiores (só a Via Láctea tem nada menos que 24 galáxias satélites).
Enfim... já descobrimos e catalogamos alguns milhares de galáxias, e isto parece muito se não compararmos com o real potencial de 100 bilhões de galáxias que nosso universo provavelmente possui.

Estamos agora ultrapassando as galáxias e nos fixando nos próximos gigantes da lista de corpos celestes. E estes são bonitos! Vamos saber mais um pouco a respeito das nebulosas.
Poucas coisas no universo são mais espetaculares, belas e magníficas do que elas. E sua função também é nobre: tratam-se de berçários cósmicos. Estrelas, planetas... tudo isso nasce numa nebulosa. Nosso sistema solar foi formado a partir de uma, a 05 bilhões de anos atrás. Elas são depósitos de material cósmico, como poeira, plasma e gases como o hidrogênio. É justamente este último que, iluminado pelas estrelas, lhes confere a característica cor rosada. Caso possua também materias mais pesados como silício, carbono e ferro, gerarão estrelas já com toda uma diversidade de planetas lhes orbitando. E, quem sabe, depois de algum tempo... a vida. Lindo!
E, embora não sejam galáxias, podem ser bem grandes. A Nebulosa da Tarântula, por exemplo, é maior que algumas galáxias anãs, e é também o mais brilhante astro não-estelar conhecido. 
Com as nebulosas, entramos numa nova unidade de medida espacial, o exametro (equivalente a 105,7 anos-luz, ou 32,4 parsecs, ou ainda 01 quatrilhão de quilômetros). A maioria delas encontra-se abaixo desta medida. Por serem "nuvens" de poeira e gás elas apresentam, tal qual as nuvens da Terra, uma infinidade de formas e tamanhos, mas têm um extra que as daqui não possuem: cores! As mais belas fotos do universo geralmente são de nebulosas ou de detalhes das mesmas, como a incrível Nebulosa da Águia e suas fantásticas e surreais estruturas, maiores que o nosso Sistema Solar.

Sobre o hidrogênio, aliás, é o elemento químico mais comum do universo, formando aproximadamente 93% de tudo que existe. Os outros 07% são praticamente hélio. Todos os outros 116 elementos químicos naturais que existem não chegam a 01% de toda a matéria do cosmo. Você também é em grande parte feito de hidrogênio (lembre-se que a maior parte do seu corpo é feita de água, uma substância cuja molécula possui 02 átomos de hidrogênio). Esse gás também é o elemento primordial do  universo, tendo aparecido menos de 1/1000 de segundo após a grande explosão do Big Bang. E isso explica sua simplicidade: apenas 01 próton no núcleo, que é orbitado por apenas 01 elétron. Isso o torna um elemento tão estranho que precisa ser classificado à parte na tabela periódica.

Mas é o momento de uma dupla despedida: das nebulosas e dos tão utilizados parsecs e anos-luz. As nebulosas se tornaram menores do que eles e tudo que vier agora também o serão, tornando-os irrelevantes daqui pra frente. Agora vamos entrar em uma nova medida espacial, petametro (equivalente a 01 trilhão de quilômetros).
As medidas agora começarão a se tornar mais familiares, cotidianas... o quilômetro já faz parte de sua rotina.

Dê o último adeus ao ano-luz com esta curiosidade: a Terra já percorreu 450 mil anos-luz girando ao redor do sol desde sua formação. Isto equivale a 4,5 bilhões de anos/órbitas. Nosso planeta é 10 mil vezes mais lento que a luz.

E atenção! Nesta escala, por mais incrível que pareça, já temos a presença humana para registrar. A sonda Voyager-01 já percorreu 17 bilhões de quilômetros desde que foi lançada, em 05 de setembro de 1977. Ela já saiu do Sistema Solar e dirige-se agora para o espaço exterior, sendo assim o mais distante objeto já criado pela humanidade a singrar o espaço sideral. Ela continua se afastando (à 17km/s) e nos mandando sinais até hoje, embora os mesmos demorem mais de 12 horas para chegar até aqui.

Agora vamos entrar no domínio das estrelas! Estas já nos são bem mais familiares, vemo-nas todos os dias à noite, no céu    se o mesmo estiver limpo, ao menos. Lá em cima elas parecem todas iguais, com tênus diferenças de brilho e tamanho... mas não são.
Estrelas, resumidamente, são glóbulos de gás (quase tudo hidrogênio e hélio) queimando por fusão nuclear sem parar a trilhões de quilômetros de distância
, tão densos que são mantidos coesos pela ação da gravidade.

Você deve estar se perguntando: "mas como se sabe do que é feito uma estrela tão longe"!? Simples, com o espectrofotômetro, um aparelho que mede o comprimento de onda da luminosidade que a estrela emite e, a partir daí, compara com o mesmo comprimento de onda de todos os elementos químicos conhecidos. A luz é uma só no universo inteiro, então, sabendo como ela se comporta aqui, sabemos como ela se comporta em qualquer lugar.
Quer testar na prática? Acesse o espectrômetro virtual AQUI.

Que o Sol é uma estrela, isso você já sabe (ou ao menos espero que saiba!). Que ele parece tão diferente das outras porque está BEM mais próximo que elas, também (novamente, espero que sim!). Mas ele não é uma estrela grande. Não, muito pelo contrário. Ele sequer seria percebido se fosse colocado lado a lado com a maior estrela do universo, VY Canis Majoris. Na verdade, é até uma covardia compará-los, conforme você pode conferir na imagem abaixo.

Essa é VY Canis Majoris – ou ao menos um pedaço dela. Tá vendo
aquele pontinho insignificante ali no centro? Pois é, é o nosso Sol...

A guria é tão grande, mas tão grande que, se fosse colocada no lugar do Sol em nosso Sistema Solar, seu diâmetro ultrapassaria a órbita de Júpiter!!! Com seus 2.900.000.000km de diâmetro, você levaria 1.100 anos para contorná-la, caso estivesse voando em um avião comercial. Ou poderia fazê-lo em apenas 02:35h... se conseguisse viajar à velocidade da luz. VY Canis Majoris é, simplesmente, a maior estrela conhecida pelo homem e provavelmente, uma das maiores do universo, pois estrelas tão colossais assim não costumam ter vida muito longa. Logo, não existem tantas como ela.
Mas o "tantas" aqui é relativo... podem ser milhões ou até mesmo bilhões. Dentro de um universo com centenas de quinquilhões, isto é praticamente nada mesmo.


Outra que chega quase ao mesmo tamanho é a WOH-G64, seguida por VV Cephei, V-354 Cephei e KY Cygnus. Todas estas estrelas têm uma coisa em comum, além dos nomes cheios de códigos: são estrelas hipergigantes vermelhas.

Estrelas dessa categoria podem ser gigantescas, mas já perderam quase a totalidade de sua massa e encontram-se no fim de suas "vidas". São velhas corocas que logo (em termos cósmicos, claro) se tornarão, ou buracos negros, ou supernovas ou ainda estrelas de nêutrons.

Estas últimas são formadas quando estrelas monstruosamente grandes colapsam sobre si mesmas, e a pressão em seu núcleo é tão inacreditável que os elétrons (-) acabam se fundindo com prótons (+), formando... nêutrons (neutros) super-hiper-ultra-mega-compactados. Uma colher de chá do material de uma estrela de nêutrons pesaria 06 bilhões de toneladas, o que é mais de DEZ vezes o peso de todas as pessoas do planeta!

Mas existem outras categorias estelares... na verdade, esses astros têm um ciclo de vida assustadoramente similar ao nosso próprio, com apenas 01 exceções: 1ª) nós ganhamos massa conforme crescemos, estrelas a perdem; e 2ª) uma estrela pode se transformar em várias coisas. Dependendo de sua massa e composição, podem, além das já citadas, se transformarem em anãs marrons ou brancas também. Nós já sabemos o que vai acontecer com o nosso Sol, que no momento é uma estrela anã amarela. Basta olhar aqui embaixo.


Ao contrário das galáxias e nebulosas, as estrelas não variam muito em formas e cores... de forma que todas elas têm imagens relativamente parecidas em observações e imagens telescópicas. Que pena.

Complexo estelar das Plêiades.
Embora pareçam próximas entre si no céu noturno, as estrelas estão bilhões e bilhões de quilômetros umas das outras. Nosso amado Sol se encontra a 8 minutos-luz de distância de nós (o que dá uns 150 milhões de quilômetros). Após ele, a estrela mais próxima que temos é Proxima Centauri, que está a 4,22 anos-luz de distância. Isso são 39,9 trilhões de quilômetros!
Quer analogia pra simplificar? Pois imagine que o sol é uma bola de futebol colocada exatamente na marca central do Maracanã, no Rio de Janeiro. Ande 25 metros (aproximadamente metade do caminho até a linha do gol) e coloque no gramado um grãozinho de pimenta de 2mm, que simbolizará nossa tão desprezada Terra. A 5cm de distância crave um alfinete no gramado  sua cabeça será a nossa Lua. Nesta escala, Proxima Centauri seria outra bola de futebol (um pouco menor) aproximadamente localizada na cidade de Knysna, lá na África do Sul, distante absurdos... 6.500km da capital carioca!
E se você é paulistano, pense naquela bola de futebol colocada exatamente no marco-zero da cidade de São Paulo, na Praça da Sé. Se mudássemos a direção, Proxima Centauri estaria na mesma distância lá em Leisure City, na ponta do estado da Flórida, nos EUA! 
Agora imagine, nesta escala, o SEU tamanho...

Proxima Centauri pode ser a estrela mais próxima da Terra após o Sol, mas é tão pequena e sem brilho (e sem graça) que simplesmente não pode ser vista a olho nu.
Mas as hipergigantes vermelhas podem ser grandes, mas nem sempre tão densas ou brilhantes. Estes postos pertencem à R136-a1, uma supergigante azul que, se fosse colocada no lugar do Sol, seria mais brilhante que ele na proporção que o mesmo é mais brilhante que a Lua. E com tanta radiação ultravioleta, nem pensar em vida aqui na Terra.
Do ponto de vista terrestre, a estrela mais brilhante do céu é Sirius, da constelação Canis Majoris (depois Canopus e Arcturus)

O Sol. Pra nós, ESSA é a estrela!
As estrelas menores também nos fazem chegar à próxima medida espacial: o terametro (equivalente a 01 bilhão de quilômetros). Nesta escala, temos as estrelas medianas, como Pistola, uma estrela que, em 20 segundos, libera mais energia que o nosso Sol em 01 ano! E por falar em Sol... ele está aqui! Sim, o nosso amado astro-rei, influência gravitacional de todo o Sistema Solar e responsável direto por você estar lendo esse texto. Exatamente: a energia de seu corpo vem, ainda que indiretamente, das reações bioquímicas que ele provoca (em você e no que você come). Então, da próxima vez que estiver um dia claro e ensolarado, lhe dê as devidas congratulações. ELE SIM é que te mantém vivo.

O Sol tem diâmetro de 1,4 milhão de quilômetros, um pouco mais que nossa próxima unidade de medida, o gigametro (equivalente a 01 milhão de quilômetros). Agora, entramos no domínio das estrela anãs, de todas as cores. Aqui também vemos estrelas meio bizarras, como Regulus, Altair, Vega e Achernar, que rotacionam tão rapidamente sobre si mesmas que se deformam, tornando-se elípticas, como um ovo de galinha! Vega mesmo parece estar viva, pois até muda de forma, similar ao impacto de algo em um balão inflável. Estas são todas estrelas azuis. De um extrema a outro, a menor estrela do universo conhecido é Sirius B, uma anã branca apenas um pouquinho maior que nossa Terra!

Mas o gigametro nos traz um novo ator em nosso palco cósmico. Ainda que bem menor que ele, é aqui que temos os primeiros planetas, e o maior do universo já encontrado é TReS-4, que é 70% maior do que o maior do Sistema Solar, Júpiter. Não existem imagens dele (ainda), mas sabemos de sua existência porque, com relação a nós, ele está bem na frente da estrela que orbita, escurecendo seu brilho. Pela intensidade da luz que a mesma emite, é possível calcular seu grande tamanho.
Aliás, graças aos avanços na astronomia, hoje conhecemos bem mais do que os 08 planetas do nosso sistema. Se perdemos 01 (Plutão) ganhamos mais de 500 para compensar. É isso aí... já descobrimos e identificamos mais de 500 planetas. Não encontrei uma lista deles na internet mas sei que, até janeiro do ano passado, haviam sido descobertos 484 planetas orbitando 408 estrelas. E isso porque nossos métodos de detecção ainda são novos e, portanto, imprecisos. Não temos capacidade ainda para rastrear decentemente planetas pequenos como o nosso.


Contudo, a maioria são planetas gasosos. Incrivelmente densos, mas compostos apenas por gases sob altíssima pressão, principalmente qual? Adivinha? Adivinha!? Adivinha!!? Ele mesmo, o já tantas vezes citado hidrogênio. Sendo assim, são planetas sem superfície e, obviamente, incapazes de abrigar vida. Pelo menos até onde sabemos. Além do mais, 500 pode até parecer muito, mas ainda falta MUITO para descobrir, e com toda certeza detectaremos planetas ainda maiores que nosso atual campeão  mas não tão maiores assim. Se Júpiter, por exemplo, concentrasse 50 vezes mais matéria  (e isso cosmicamente falando é algo até bem simples) deixaria de ser um planeta... e se tornaria uma estrela.

Planetas do Sistema Solar em comparação.

Como dito à pouco, a vida como conhecemos talvez não seja a única passível de existência. Só conhecemos formas de vida dependentes da água. Pode até haver alguma forma de vida em Júpiter ou Netuno, mesmo que apenas microscópicas e nada complexas. Na verdade uma quantidade muito, muito, mas MUITO pequena deve ser de planetas rochosos como o nosso, e uma quantidade ainda menor deve orbitar estrelas do tipo solar como a nossa. Ainda assim, mesmo que seja 01 em 01 milhão, o número final será enorme, pois o total é praticamente infinito.

Agora podemos finalmente ver os planetas que nos são familiares... aqueles que fazem parte do nosso Sistema Solar, dependentes da atração gravitacional exercida pelo astro-rei, o Sol. Pela ordem de tamanho: Júpiter, Saturno, Urano, Netuno... todos esses planetas possuem anéis, embora apenas os de Saturno sejam famosos, por serem mais espessos e, assim, também mais visíveis. São chamados de planetas exteriores por se encontrarem após o grande cinturão de asteróides, que os separa dos 04 planetas mais próximos do Sol.
Estes, aliás, BEM menores do que seus companheiros "de fora" mas, em compensação, todos eles são rochosos, e não bolonas de gás super concentrado. Maaaaassss... já disse, ser rochoso não é garantia de vida. Estar na distância correta da estrela também conta bastante a favor. Desta forma, não temos muitas chances de encontrar vida em Mercúrio e Vênus que, apesar de rochosos, estão próximos demais do Sol e vivem (literalmente) fervendo.

Então temos apenas mais 01 opção: Marte. Todavia, apesar das inúmeras sondas já enviadas para lá, nunca tivemos um sinal claro e inequívoco de que haja qualquer coisa viva por lá.
O único lugar do Sistema Solar que reúne as condições perfeitas para a vida... é ela.

Foto da Terra tirada da Apollo 17, em 07 de dezembro de 1972. Esta imagem, apelidada de
"a bolinha azul", é a mais reproduzida de toda a história da humanidade.

Aaah, a Terra... não existe nada de especial neste planeta fora o fato de abrigar vida. Mas precisaria de algo mais!? Isto por si só é um evento tão raro e tão isolado até onde sabemos que é o suficiente para que lhe demos o devido  valor  embora dificilmente o façamos, não é mesmo?

Vamos voltar aos números. Nosso planeta tem diâmetro de 12.700km e, como você sabe, tem um satélite: a Lua, de 3.500km. Ela não é a maior do Sistema Solar: este posto pertence à Ganimedes (5.300km), uma das 66 luas de Júpiter, seguida de perto por Titã, de Saturno (5.200km), que tem "apenas" 62 luas. Se os planetas exteriores do nosso Sistema Solar são todos gasosos, suas luas não são, e algumas delas possuem chances tentadoras de abrigar vida  embora ainda não exista NADA de concreto a respeito. Europa (a lua, não o continente) de Júpiter é a aposta mais promissora. Está coberta de gelo, e há teorias de que possa haver um oceano por baixo dessa camada capaz de abrigar vida. Se você acha isso estranho, pense no Lago Vostok, na Antártida (leia sobre ele aqui). Existem outras luas estranhas, como Io, de Júpiter, que possui a maior atividade vulcânica de todo o Sistema Solar, ou Tritão, de Netuno, o lugar mais frio (-240ºC) e com ventos que chegam quase à velocidade do som... enfim, com relação à planetas, apenas Marte pode (ou pôde) quem sabe possuir algum tipo de vida, mas as luas oferecem, além de maiores chances, um maior número de lugares atraentes para se procurar.
Abaixo das luas agora temos os chamados "planetas anões", posto ao qual relegamos o tão desprezado Plutão (que, aliás, mudou de nome para 134340 Plutão). Fazem coro com ele Éris, Sedna, Quaoar e Caronte. Aí a gente chega numa questão sinistra: o que cargas d'água é um planeta? Porque, no Cinturão de Asteróides existe Ceres, um corpo celeste que ninguém sabe ainda se é um planeta-anão ou um asteróide (se for um asteróide é o maior de todos, com 950km de tamanho). E ainda existe a categoria "planetóide"... enfim, tem alguns astros que ninguém se entende sobre o que é ou o que deixa de ser. Na última década, várias descobertas só vieram a aumentar a confusão. Então vamos deixar os astrônomos se matando pra definir isso e simbora continuar nossa viagem  até porque ainda não terminamos com os astros... nós vamos voltar a falar de corpos celestes mais adiante. Antes, temos que registrar que chegamos à nossa próxima medida, o megametro (equivalente a 1.000 quilômetros).


Agora chegamos a um momento realmente especial... já somos capazes de visualizar VIDA! Sim, do espaço! Estamos falando da Grande Barreira de Corais, no sudeste da Austrália, que tem incríveis 2.600km de extensão e é a maior estrutura construída unicamente por seres vivos não-humanos em nosso planeta. Ao todo, 300 atóis, 600 ilhas e 2.600 recifes formam um patrimônio mundial da humanidade, berçário de infinitas espécies marinhas e um tesouro incalculável em biodiversidade... que nós estamos destruindo.
O que obviamente não é novidade, nem aqui nem em qualquer outro lugar do planeta! Na verdade desde que o homem apareceu na Terra iniciou o processo de destruição da mesma, embora apenas no Século XX chegou a um nível tão assustador de devastação ambiental. No atual século a consciência ambiental global até despertou, mas ainda é tênue e incapaz de deter o avanço do estrago.

Tartaruga-verde (Chelonia mydas) nadando tranquilamente nas águas da Grande Barreira de Corais.

Nesta escala também temos a 1ª estrutura construída pelo homem: a Grande Muralha da China que, ao contrário do que se apregoa, NÃO PODE ser vista da Lua, tampouco do espaço a olho nu, isso é lenda. Que fique claro que NENHUMA obra humana é possível de ser visualizada a partir de lá. Até os continentes são difíceis de discernir. A muralha é de fato gigantesca, mas fina, estreita demais, razão pela qual não dá mesmo para vê-la do espaço  nem mesmo do espaço baixo, onde pairam alguns de nossos satélites. Imagens de alta resolução feitas a partir deles podem, sim, registrar esta impressionante obra da arquitetura militar construída durante a China Imperial, cuja construção possui 8.800km de extensão (não em apenas 01 muro mas em vários, erguidos por diversas dinastias desde 221 A/C até o século XV, durante a dinastia Ming). Nunca antes ou depois o homem construiu algo tão grande.
Com muito olho (e MUITA boa vontade) é possível distinguir
a Muralha da China na foto acima (tirada por satélite, claro).      
Ainda sobre a possibilidade de enxergar construções humanas do espaço, é até possível... mas não individualmente. Se você estivesse num satélite de LEO (do inglês Low Earth Orbit, Baixa Órbita Terrestre, cuja altura mínima é de 350km) conseguiria distinguir, por exemplo, o borrão cinza da cidade de São Paulo e de outras grandes cidades do mundo, mas não se pareceria com nada artificial ou humanamente construído. Neste sentido, o melhor que poderia ser visto seriam aquelas construções monstruosas de Dubai, Palm Jebel Ali, Palm Jumeirah e The World Islands mas, mesmo assim, seriam dificilmente distinguíveis do restante da paisagem a uma altura tão grande. Mas é claro, quanto mais aproximasse, seria óbvio que, no mínimo, não se trataria de uma estrutura esculpida apenas geologicamente.

E por falar em paisagem, o maior acidente geográfico terrestre do planeta já pode ser visualizado! É o Grand Canyon, um rasgo de 450km de extensão esculpido pelo rio Colorado ao longo dos últimos 17 milhões de anos. Algumas rochas expostas por ele são muito mais antigas que isso, podendo chegar a 1,8 bilhão de anos de idade.
Bem menor que ele, mas com o título de montanha mais alta da Terra, está o monte Everest (ou Sagarmatha no original tibetano) que, com 8.848m de altura, continua a crescer lenta mas incessantemente (bem como toda a Cordilheira do Himalaia) em torno de 5mm/ano, graças à pressão que a placa indo-australiana exerce sobre a eurasiática sem parar a 70 milhões de anos.
Descendo ainda mais, vamos reencontrar alguns corpos celestes (não falei que reapareceriam?). Aqui temos alguns dos menores do universo conhecidos pelo homem, como as diminutas luas Hydra (100km) e Nix (80km). Calculando a circunferência a partir do diâmetro (3,14159265 x 80), chegamos a apenas 251km. Dá aproximadamente 06 distâncias de maratona (42km). Dirigindo um carro à velocidade de 80km/h, você demoraria pouco mais de 03h para dar uma volta completa no pequenino. Achou pouco? É porque ainda não falei de Deimos, de Marte, talvez a menor lua conhecida, com apenas 13km.
Os anos 1980 e suas tosquices... esse era o medonho Halleyfante.
Vamos dar adeus a TODOS os nossos amigos espaciais com os dois próximos. O 01º é famoso, bonitão e de vez em quando vem nos visitar... é o Cometa Halley, que deu uma última passada por aqui em 1985 (eu vi!). Se você é mais jovem, não fique triste... ele vai voltar em 2061 (talvez já seja tarde demais para mim que, se estiver vivo, estarei com 85). Em sua época ele passou a fazer parte da cultura popular, apareceu até no seriado dos Changeman! Aqui no Brasil, inventaram uma horrível "Família Halley" na TV, cujo integrante mais infame era o Halleyfante, que eu chamava muy carinhosamente de "aquele robozinho gay".
Apesar de sua cauda possuir até 03 milhões de quilômetros de extensão (mais de 230 vezes o tamanho da Terra), o núcleo em si tem apenas 11km. Isso mesmo, a mesma distância em linha reta entre a Lagoa Rodrigo de Freitas e o Engenhão, no Rio de Janeiro. Incrível como consegue formar uma cauda mais de 270 mil vezes maior! Na verdade a cauda é formada a partir de material vaporizado do núcleo, que por sua vez é constituído de rocha, poeira e gases congelados, e possivelmente água também. Toda vez que ele se aproxima do sol, esse material "derrete", formando a gigantesca (e magnífica) cauda. A cada 1.000 voltas, o cometa perde 10% de sua massa, o que fará com que desapareça totalmente em 300 mil anos. Não se preocupe, vai dar tempo. :P

O último corpo celeste que vou te mostrar neste artigo é Cruithne, do qual você nunca ouviu falar. Com "míseros" 05km de tamanho, é um asteróide ou proto-satélite considerado a "02ª lua" da Terra, por causa de sua órbita surpreendentemente similar à do nosso planeta. Mas isso não o torna uma lua de verdade.

Túnel do Grande Colisor de Hádrons.
Agora chegamos à fase inequivocamente humana, das grandes até as mais diminutas construções compiladas pela mente do homem. No maior extremo, já podemos colocar a maior máquina já construída, o LHC (do inglês Large Hadrons Collider, ou Grande Colisor de Hádrons), figurinha carimbada desse blog. Com seus 8,6km de diâmetro e 27km de circunferência, faz prótons trombarem entre si para criar as partículas fundamentais do universo, como quarks, léptons e o famoso (e ainda incompreendido) Bóson de Higgs  que aliás, já foi encontrado.
E já que falamos de um acelerador, estamos diminuindo aceleradamente agora e as estruturas humanas tornam-se cada vez mais familiares! Mas ainda há espaço para a natureza. O rochedo vermelho Uluru, sagrado para os aborígenes da Austrália, é mais baixo que muitas construções (348m de altura), mas mais comprido que a maioria delas (03km de comprimento). Saindo da horizontal para a vertical temos a maior queda d'água do planeta, Salto Ángel, na Venezuela, com seus 980m de altura. Quase toda a água que cai vira vapor no meio do caminho.
Entramos definitivamente no mundo humano agora.  E isso porque estamos deixando para trás o quilômetro (equivalente a 1.000 metros). A partir de agora, tudo será medido em metros, inclusive os mais famosos monumentos construídos pela humanidade, como a Torre Eiffel (320m), o Arco Gateway (192m), o Obelisco de Washington (169m) e a Grande Pirâmide de Gizé (150m) que, aliás, permaneceu como construção mais alta do mundo por 4.000 anos  um recorde que dificilmente outra estrutura humana conseguirá, dada a velocidade com que recordes são transpostos hoje em dia. Para se ter uma idéia, a Torre Eiffel, inaugurada em 1889, ficou 41 anos na liderança até o Chrysler Building de Nova York a substituir em 1930, e este já perdeu o posto no ano seguinte, para o Empire State Building, na mesma cidade. Este ficou no trono até 1972, quando da construção do falecido World Trade Center, também em Nova York. Hoje, praticamente a cada 05 anos o recorde é batido, mas agora lá pelos lados do Oriente Médio e sudeste asiático.

Atualmente, o Burj Khalifa, inaugurado em 2010 em Dubai, é o mais alto de todos (830m) de altura. Depois dele, mas longe, vêm a Abraj Al-Bait Tower em Meca (601m) e o Taipei em Taywan (509m). Poderia ter colocado o World Trade Center (526m) nessa lista... se ele ainda existisse.

Se você tiver um olho muito bom, provavelmente já vai conseguir distinguir uma "coisinha" em meio a isso tudo. Fique ligado nela.

No plano horizontal, temos navios como as grandes estruturas criadas pelo homem. Se o que primeiro lhe vem à cabeça é o Titanic, você deve ter vivido no começo do século passado. Com seus 270m de comprimento, ele não figuraria entre os gigantes que vieram depois dele, como o japonês Knock Nevis (458m), o francês Batillus (414m) ou o Esso Atlantic (404m), todos petroleiros. Porém, todos já foram desmontados e atualmente não mais existem. O primeiro detinha também o título de mais pesada máquina móvel já construída, com 565 mil toneladas, mas este recorde foi quebrado (junto com vários outros) com o surgimento da monumental Troll Tower, plataforma de gás natural offshore da Noruega, que tem um peso total de 650 mil toneladas de aço e concreto.

Mas não são apenas as máquinas e construções que vão diminuindo de tamanho, é claro! Até agora não falamos de nenhum ser vivo individual, mas eles já podem ser encontrados a partir daqui. Entre as plantas, as maiores em altura são as árvores norte-americanas sequóias (Sequoiadendron gigantea), cujo maior exemplar já medido possuía 112m de altura. Hoje, o recorde é de uma sequóia carinhosamente apelidada de General Sherman, que tem 94,8m. A maior árvore de todos os tempos já medida era um eucalipto australiano, com 132m, em 1872. Todavia, em se tratando de comprimento, as algas da Ordem Laminariales são imbatíveis: chegam a inacreditáveis 300m, crescendo espantosos 1m por dia! É o organismo individual mais longo do planeta em qualquer reino.

Lembra da "coisinha"? Ela já está mais discernível, mas ainda é irreconhecível. Continue com ela no pensamento.

Entre os animais, em se tratando de comprimento, é o verme Lineus longissimus, animal marinho que alcança os 55m de tamanho, o animal mais comprido do mundo. Depois, a água-viva juba-de-leão (Cyanea arctica), com seus tentáculos de 37m e, com MUITÍSSIMO mais volume, a baleia-azul (Balaenoptera musculus), com 33,6m. Esta última também está na liderança do volume (180 toneladas), neste quesito vencendo qualquer animal antes ou depois, o que inclui os maiores dinossauros do passado.
Mas estes últimos eram mais compridos, especialmente os saurópodes como o Amphicoelias fragillimus, cujas estimativas apontam os 58m da ponta do focinho à da cauda. Quase um Boeing 747. Outros também conseguiram ficar maiores que a baleia-azul, como o Argentinosaurus (45m) e o Supersaurus (34m).

Agora já se é possível reconhecer a "coisinha"... se você ainda não se tocou do que se trata, aguarde um pouquinho mais. ;)

Estamos chegando ao fim da nossa jornada. Tanto construções como seres vivos estão ficando cada vez menores, mais reconhecíveis e familiares.
Despedimo-nos dos animais conhecendo o maior invertebrado do mundo, a lula-colossal (Architeuthis dux), que chega aos 18m de comprimento e 900kg de peso. Entre seus companheiros terrestres, destacam-se o elefante, a girafa, o rinoceronte e o hipopótamo, todos mamíferos africanos, e o bisão norte-americano. São os maiores animais que ainda existem fora d'água (existiam outros ainda maiores, mas tratamos de exterminá-los até a aniquilação total).

Finalizando a participação do Reino Plantae, o saguaro (Carnegiea gigantea), espécie de cacto do deserto de Sonora, no Arizona (EUA), pode alcançar até 15m de altura, sendo a maior planta (excluem-se aí árvores de grande porte) que existe. Pode chegar aos 200 anos de idade e atingir 10 toneladas de peso.

E então, querido leitor, finalmente chegamos àquele capaz de observar, captar, calcular, mensurar e disponibilizar isso tudo. Isto mesmo, aquela "coisinha" que lhe pedi para  ficar atento agora está plenamente visível e reconhecível! Estamos falando exatamente de...


Este é o seu momento! Não se sinta diminuto... tudo e todos têm seu lugar no universo. Isto pode até soar poético e meio místico, mas é a pura realidade.
Todavia, não pense que és a menor coisa que existe. Com efeito, podes ser a maior 
 depende do ponto de vista. Existe todo um universo menor que você! Na próxima postagem vamos te colocar como a mais colossal estrutura do universo partindo do conceito das supercordas, espuma quântica e comprimento de Planck. Você vai se sentir um gigante! E seu ego irá aos píncaros!

Agora, uma perguntinha: depois de tudo que viu e leu, você acha mesmo que um suposto deus (qualquer um dos milhares que já inventamos para justificar nossos desesperos bobos) criaria um universo desses, com números desse tamanho e com tantos lugares diferentes para querer se preocupar apenas com a SUA vida sexual!?

Pra terminar este artigo bem (e claro, se gostou dele) você deve agora ser coerente e agradecer ao verdadeiro responsável por sabermos tudo isso. Aquele que, desde 1990, nos presenteia com as mais fantásticas  e importantes imagens já visualizadas pelo homem, num salto tecnológico tão revolucionário quanto aquele que Galileu deu ao apontar sua luneta para o céu em 1609:

OBRIGADO, TELESCÓPIO ESPACIAL HUBBLE !

Mas é claro que tem links! Sempre tem!

sábado, 2 de junho de 2012

Tão perto... o infinitesimal, e o infinito.



As palavras do título desta postagem fazem parte do monólogo final de um dos melhores filmes de todos os tempos, O Incrível Homem que Encolheu, (Universal, 1957)Na verdade esta é até uma maneira de homenagear esse épico, que está completando 55 anos.

O filme conta a história de um cidadão que é envolto em uma nuvem radioativa (bem aquela paranóia atômica dos anos 1950) e a partir daí começa a encolher. Só que ele não para de diminuir, o filme não tem final feliz. No finzinho, ele começa a se questionar sobre seu tamanho (já está menor que um inseto) e a importância disso perante a grandiosidade do universo. Acima você vê este momento, em que ele faz o já referido monólogo que é um dos mais espetaculares da história do cinema  e que tem tudo a ver com o que você está prestes a ler.

Embora eu nunca tenha me familiarizado muito bem com eles (e me confundo até hoje, admito), jamais questionei ou duvidei da importância e poder dos números. O universo é matemático; o próprio tempo é uma equação matemática. Tudo é matemática! Platão já dizia que os números governam o mundo. Então, prepare-se para dois artigos repletos de números... infinitesimais e infinitos, compreendidos entre 10-35m (o menor comprimento físico que existe) e o 1026m (o tamanho de todo o universo observável). Tanto num extremo como em outro há números colossais, que nem sequer têm nome, e são mais apropriadamente escritos sob a forma de potência.
Quando falamos em Google, pensamos logo no site, mas quase ninguém sabe que o nome foi inspirado no Googol, que é 10 duotrigesilhões (ou 10100), mas ele nem é o maior já concebido pelo homem: existem ainda o 01 centilhão (10303) e os inomináveis, incalculáveis e indescritíveis Googolplex (10googol), Googolplexian (10googolplex) e Googolplexianth (10googolplexian). Para uma melhor visualização, dê uma olhada no quadro abaixo.


Os números são infinitos, o universo (talvez) não. Como diria o genial William Shakespeare em Hamlet: "Há mais coisas entre o céu e a terra do que ousa imaginar a nossa vã filosofia".

Na verdade – e eu confesso que, apesar do meu ateísmo, é um conceito bastante racional sob meu ponto de vista biológico – gosto muito da idéia criada nos quadrinhos da Marvel em que o cosmo inteiro possa ser, na verdade, a consciência de uma única criatura, que na ficção da editora se chama Eternidade. Seríamos então como partículas dentro de um lugar qualquer situado no interior de um grande corpo, como piolhos e ácaros vivendo em nossos próprios corpos sem se dar conta disso e, se você parar para pensar, nós somos de fato partículas insanamente pequenas, dentro de outra partícula diminuta chamada Terra tal qual os quarks e léptons que são os "átomos dos átomos", as menores partículas dos múltiplos elementos químicos que constroem tudo que existe e assim por diante. Existem teorias que afirmam que os buracos negros possam ser universos inteiros, supercompactados, mas funcionais. E buracos negros, conforme os leitores do blog já sabem, podem conter inacreditável quantidade de matéria num espaço menor do que nossos microscópios mais poderosos conseguem visualizar. O conceito então não pode ser descartado. Nossa definição de vida (sistema químico autossustentado capaz de sofrer evolução darwiniana, de acordo com a NASA) se refere apenas e unicamente aos organismos vivos aqui da Terra. Não podemos descartar hipóteses de surgimento e mantenimento da vida completamente diferentes do que possa ter ocorrido aqui. A pouco tempo atrás, no final de 2010, a mesma NASA anunciou a descoberta de uma forma de vida totalmente diferente de qualquer outra do nosso planeta... NO nosso planeta. Tudo bem, era apenas uma bactéria habitante de um venenoso lago entupido de arsênico, mas mudou completamente a forma como a biologia conhecia a vida porque a criatura substitui o fósforo (um dos elementos essenciais presentes em TODOS os organismos vivos do planeta) justamente pelo arsênio do lago, uma substância tóxica para qualquer criatura viva (fora ela).


Ah sim, o Eternidade é esse cara aqui embaixo.


Eternidade, a totalidade do universo.

Ao final de ambos os artigos, você terá uma noção dúbia sobre si mesmo e a respeito da própria humanidade: vai se achar uma criatura grandiosa ao mesmo tempo que perceberá quão a humanidade, com seus problemas de economia, religião e política, é desprezível perto da inacreditável vastidão de tudo que existe. Fenômenos cósmicos maiores que o nosso Sistema Solar inteiro, juntamente com acontecimentos tão microscópicos e rápidos que sequer pode-se dizer que ocorreram, estão acontecendo no exato instante em que você lê minhas linhas. Então, se você realmente sair destes artigos ao menos um pouco mais pensativo... terá dado certo.


Escolha qual quer ver primeiro:
"De repente eu notei que aquela pequena e bela ervilha
azul era a Terra. Eu levantei meu dedão e fechei um olho,
e meu dedão cobriu totalmente a Terra. Eu não me senti
um gigante. Me senti muito, muito pequeno."
(Neil A. Armstrong - 1930 / 2012)

terça-feira, 15 de maio de 2012

A Extinção da Humanidade - Eventos Cósmicos



Dando sequência às possibilidades de extinção da espécie humana, vamos falar hoje das chances cósmicas disto acontecer.
Você já viu que podemos ser exterminados em virtude de doenças ou da própria força da natureza, mas nossa destruição também pode vir do espaço, embora, mesmo com as várias possibilidades que veremos aqui, as chances sejam bastante remotas.

E por que são remotas? Por causa da própria vastidão do cosmo. A Terra é apenas 01 planeta, "especial" apenas e unicamente pelo fato de ter sido capaz de gerar vida, nada além. Já sabemos que existem centenas de planetas extra-solares, inclusive alguns com características físicas similares às do nosso, e que podem ser tão especiais quanto ele. Já o universo é um gigante com mais de 400 sextilhões de quilômetros! E isso se tratando apenas de sua parte observável! É como se nosso planeta fosse uma ameba isolada suspensa no meio do Sistema Solar. Atente também para o fato de que este número fica cada vez maior, uma vez que o cosmo está aumentando continuamente de tamanho. Depois do sol, a estrela mais próxima é Próxima (o nome é esse mesmo), da constelação do Centauro, que está a mais de 39 trilhões de quilômetros daqui – ou 04 anos viajando à velocidade da luz. Existem fenômenos cósmicos destruidores ocorrendo em todo o universo a todo instante, mas a Terra encontra-se num lugarzinho relativamente sem graça (ainda bem!) da Via Láctea, a nossa galáxia. Nada de muito cataclísmico acontece por aqui. Então tais possibilidades não são impossíveis, mas altamente improváveis.

Todavia, porém, outrossim, contudo e entretanto,  há um outro lado nessa história. Aqui também temos de considerar que, ao mesmo tempo em que tais eventos são raros, destes dificilmente conseguiríamos sobreviver. Isto porque tais acontecimentos são tão monumentais quanto o próprio universo. A mais conhecida de todas as catástrofes cósmicas é o impacto de meteoros. Mas também temos de considerar cometas, outros planetas e até mesmo galáxias inteiras, além de explosões de supernovas, emissões de raios gama e até mesmo daquele que jamais suspeitaríamos (continue lendo)... tudo isso se torna medonhamente colossal quando colocado sob nosso ponto de vista. Então, é muito difícil que alguma delas ocorra aqui pelas proximidades mas, se ocorrer... cara, danô-se! TODA a vida na Terra seria potencialmente aniquilada, e não apenas a humanidade, como no caso de uma epidemia ou de uma catástrofe natural global.

E já que a mais famosa é a COLISÃO POR CORPOS CELESTES, por que não começamos por ela?

Concepção artística do cometa Shoemaker-Levy 09 em rota de
colisão com Júpiter, em julho de 1994.
Aqui (felizmente), temos de novo uma relação inversa: quanto maior o meteoro, menor sua chance de nos atingir. O que não significa que não possa acontecer, ou mesmo que só aconteça muito longe de nós. Em 1994 a humanidade pôde pela primeira vez testemunhar em tempo real o choque de um cometa... em Júpiter. Na verdade, eram diversos fragmentos de um mesmo cometa, chamado Shoemaker-Levy 09. A energia liberada quando o maior deles acertou o planetão com tudo foi estimada em aproximadamente 06 milhões de megatoneladas de TNT (as assustadoras bombas soviéticas tsar, em teoria, liberam "míseras" 100 megatoneladas 60 mil vezes menos), e abriu um rombo maior que a Terra em sua superfície. Uma pancada dessas por aqui arrasaria a vida do nosso planeta. E se você acha Júpiter um planeta tão longe assim saiba que, em termos cósmicos, ele está logo ali, na cabeceira do outro lado do sofá.

Impacto KT marca o fim do período Cretáceo – e dos dinossauros.
Meteoros "grandes" (em dimensão humana) caem na Terra todos os anos, só que geralmente explodem e se vaporizam na alta atmosfera, não chegando a tocar o chão. A colisão mais famosa (mas não a maior) da história do nosso planeta se chama impacto KT, e ocorreu a 65 milhões de anos atrás, no que é hoje o território do México. Foi essa bordoada que terminou de exterminar os dinossauros e abriu caminho para a (r)evolução dos mamíferos, que (infelizmente) culminaria com nosso surgimento.
Calcula-se que o asteróide que se espatifou contra a Terra na ocasião tinha algo em torno de 10/14km de comprimento (quando tocou o solo sua parte oposta ainda estava na estratosfera), mas abriu um rombo quase 20 vezes maior na crosta terrestre. Para se ter uma idéia de seu poder de destruição, se todas as armas do planeta fossem ativadas simultaneamente o impacto KT ainda seria 1 milhão de vezes mais poderoso. Seu tamanho parecer pequeno comparado ao planeta, mas lembre-se que uma bala de revólver também é pequena em relação ao seu corpo.
Este impacto foi tão importante para a história da vida na Terra que finalizou a Era Mesozóica e deu início à atual Cenozóica.

Se ainda está pensando que tais colisões só ocorreram longe ou a milhões de anos atrás, é porque nunca ouviu falar de Tunguska.

Às 07:17h da manhã de 30 de junho de 1908 uma explosão colossal ocorreu a 6km de altura nos céus da Rússia, na região conhecida como Tunguska, na Sibéria. Este episódio ficou conhecido como "evento de Tunguska" e nunca se conseguiu determinar qual foi sua causa. Cometa, asteróide, até mesmo especulações sobre um possível buraco negro foram propostas – embora nada tenha sido relatado do outro lado do mundo, onde ele supostamente teria "saído". E claro, como sempre, teve os que falaram nos onipresentes discos voadores. O mais provável, entretanto, é que tenha sido um asteróide "grande" que, com o atrito contra nossa atmosfera, explodiu, gerando ondas de choque que reverberaram violentamente contra o solo siberiano. O mais espantoso é que o objeto não devia ter mais do que 20 ou 30 metros – o comprimento médio de um lote de terreno. Mas, mesmo tendo sido desintegrado a aprox. 10km de altura, foi o responsável pela derrubada de quase 80 milhões de árvores em terra. O que quer que tenha entrado na atmosfera e explodido lá em cima, o evento de Tunguska é considerado o impacto cósmico mais significativo da história recente.

Assim como existe o índice VEI para medir a potência dos vulcões (lembra?), há algo similar para medir a probabilidade de colisão de um meteoro com a Terra. É a chamada Escala de Torino, que está representada abaixo e como eu sei que você não vai entender porra nenhuma mesmo, a explicação tá na legenda.

00 - chance inexistente de colisão
01 - chance extremamente improvável de colisão
02 - ameaça mínima mas merecedora de atenção
03 - ameaça pequena capaz de devastação local

04 - ameaça pequena capaz de devastação regional
05 - ameaça média mas incerta
06 - ameaça séria mas incerta
07 - ameaça muito séria e quase confirmada
08 - destruição local confirmada (até 01 milhão de anos)
09 - destruição regional confirmada (até 10 milhões de anos)
10 - catástrofe mundial confirmada (até 100 milhões de anos)

Até hoje, o meteoro que mais longe conseguiu chegar nesta escala foi o 99942-Apophis. Durante algum tempo, ele foi a principal encheção de saco dos alardeadores de fim de mundo e profetas do apocalipse devido à uma pequena possibilidade real de impacto com a Terra em 2029 (que depois foi postergada pra 2036, 2043...). Em virtude disso conseguiu alcançar, num primeiro momento, o nível 04 da escala. De fato, se nos atingisse, a porrada ia ser séria, mas hoje ele não bota medo em quase mais ninguém e se encontra entre os valores 00 e 01.
Só que ele não é o único. Com o avanço da tecnologia de observação, outros asteróides já foram identificados como prováveis causadores de problemas aqui pra gente, como o 2011-AG5. Enfim, devem existir centenas, milhares de potenciais ameaças que ainda serão descobertas.

“Os dinossauros morreram porque não tinham um programa espacial”
(Arthur C. Clarke)

Mas é possível defender-se de um impacto cósmico, seja de meteoro ou cometa? EM TEORIA, sim.
Calcular sua velocidade e seu ângulo no momento do impacto é essencial para avaliar a intensidade de seus danos. Mas para saber como destruí-lo é necessário conhecer O QUE é que está vindo. Mesmo asteróides possuem uma variedade de composição, densidade e outros fatores que podem ser decisivos no sucesso de sua destruição:

  • objetos porosos se dividiriam em pedaços ainda grandes demais se fossem explodidos;
  • objetos rochosos não sofreriam danos significativos e produziriam muitos estilhaços perigosos;
  • objetos ferrosos não produziriam estilhaços... porque não sofreriam dano algum. Seriam o pior tipo.

Ou seja: não vá na onda de Impacto Profundo ou Armageddon não, porque se na teoria até temos uma infinitesimalmente pequena chance de sucesso, na prática...

Asteróides são potencialmente perigosos, mas cometas são ainda piores, porque não têm rota definida.
Como assim? Esses corpos celestes nada mais são do que grandes blocões de gelo, e conforme se aproximam do sol, podem começar a derreter em virtude do calor. Mas, diferentemente do que ocorre na Terra, no espaço o gelo não vira água: se transforma diretamente em vapor, que pode ser disparado em fortes jatos a partir do núcleo, e é aí que se tornam realmente perigosos. Um desses jatos pode simplesmente fazer o bólido mudar de direção... e vir de encontro à Terra. Enquanto centenas de meteoros já tem suas rotas conhecidas e calculadas por várias décadas no futuro, com um cometa isso simplesmente não pode ser feito.

E se você acha que meteoros ou cometas são as piores coisas que poderiam se estabacar sobre nosso planeta, o que pensaria se soubesse que outros planetas também podem fazê-lo?

Pois isto já aconteceu. E com a Terra.

The Big Splash: e assim nasceu a Lua...
Quando você olha o céu numa noite sem nuvens, a Lua é o elemento dominante. Além de ser romântica, ela é também uma evidência da maior pancada que o nosso planeta já tomou, um evento conhecido como Big SplashSegundo essa teoria, a Terra levou uma trombada porradalhôncica a 4,5 bilhões de anos de um outro planeta, do tamanho de Marte e cujo nome era Theia. O impacto foi tão forte que deslocou o eixo da Terra para sempre, acelerou sua rotação e arrancou grande parte de sua crosta, lançando-a ao espaço (enquanto Theia simplesmente pulverizou-se). A vida só não foi completamente destruída porque a Terra naquela época... não tinha vida. Mas os destroços de ambos lançados ao espaço acabaram por se agregar num único bloco... e se tornaram a Lua. As evidências são bastante significativas: a Lua tem basicamente a mesma composição que o nosso planeta.
E se tudo isso comprovadamente já aconteceu em algum momento da história da Terra... pode muito bem acontecer de novo, com qualquer uma das alternativas.
Inclusive tem abobalhado se aproveitando disso e da tal teoria maia de que o mundo vai acabar em dezembro próximo para promover a idéia de colisão planetária. Uns falam no tal Nibiru, outros em Hercólubus, mas todos só estão enchendo o saco. Ou são idiotas mesmo.

Via Láctea e Andrômeda vão se esbarrar no futuro.
Aliás, nossa própria galáxia, Via Láctea, está em rota de colisão com uma outra, Andrômeda, que neste momento está a 2,6 milhões de anos-luz de distância. Ambas se aproximam à velocidade de 100/140km/s, o que dá aprox. 400 anos-luz a cada milhão de anos. Neste caso, é improvável que aconteça qualquer coisa ao nosso planeta, pois embora pareçam uma núvem de poeira dispersa (e não estão muito longe disso), cada "grão" dessa poeira está tão longe dos outros que o mais provável é que uma galáxia passe por dentro da outra sem colidir em absolutamente ponto algum, ou então se fundam numa única galáxia gigantesca. Isto deve acontecer em torno de 4,5 bilhões de anos no futuro e você vai ver que antes disso nosso planeta com toda certeza VAI ser destruído.

Mas já falamos muito de impactos cósmicos. Existem várias outras catástrofes vindas do espaço que devemos levar em consideração, por mais pífias que sejam suas chances de acontecer. As estrelas, tão brilhantes e distantes, na verdade possuem um arsenal de ameaças à vida. Quase todas as possibilidades cósmicas de ameaça à vida na Terra estão relacionadas a elas, e mesmo "mortas" podem incomodar muito. Mas de novo, para nossa sorte a grande maioria está longe demais para representar uma ameaça séria, mas isso não significa que elas não aconteçam o tempo todo, ou mesmo que uma dessas não possa nos causar danos realmente sérios. Na verdade, de tempos em tempos efeitos de reações estelares causam algum rebuliço aqui na Terra, mas geralmente só "matam" mesmo nossos equipamentos elétricos e eletrônicos. Um exemplo não tão raro de ameaça assim são as chamadas EMISSÕES DE RAIOS GAMA.

Estrela de nêutrons: ameaça à vida em qualquer lugar do universo.
Uma demonstração do perigo de uma emissão desse tipo tivemos em 27 de dezembro de 2004, quando um pulso colossal ocorreu em nossa galáxia, a 50 mil anos-luz de distância, na estrela de nêutrons conhecida como SGR-1806-20, situada na constelação do Sagitário. Traduzindo isto em quilômetros vira um número tão assustador que sequer dá pra nomear direito, mas lá vai: 4,73036524 × 1017 (é como se fosse aquele número inicial ali seguido de 17 zeros, ou 47 septilhões, trezentos e três  sextilhões, seiscentos e cinquenta e dois quintilhões e quatrocentos quatrilhões de quilômetros... ufa!). Mesmo assim, foi o suficiente para brilhar mais que a Lua no céu noturno por um breve momento e bagunçar a ionosfera do nosso planeta. O mais impressionante é que, dado o tamanho do universo, isso representaria uma explosão ali fora, no nosso quintal. Se fosse no nosso quarto, estaríamos em sérios apuros uma dessas mais próxima lançaria radiação suficiente para destruir nossa camada protetora de ozônio e expor todos os seres vivos deste planeta a doses letais de radiação. Talvez somente algumas bactérias, como a da figura abaixo, sobreviveriam, e a vida teria de recomeçar pelos procariontes como a 3,5 bilhões de anos. Felizmente, para nós, não existe nenhuma estrela de nêutrons desse tipo (conhecidas como magnetares) nos arredores do sistema solar. Pelo menos, não que tenhamos identificado...

Deinococcus radiodurans, um dos únicos organismos da Terra
capaz de sobreviver a uma emissão direta de raios gama.


Além das emissões de raios gama, há outros problemas com elas dignos de medo: um deles são as SUPERNOVAS.

Elas se formam quando estrelas massivas demais explodem, e são os fenômenos cósmicos mais poderosos conhecidos, capazes de brilhar mais que sua própria galáxia inteira cheia de estrelas no momento em que explodem.
Eta Carinae: o mais próximo que vamos chegar de uma supernova.
Para nossa sorte, uma detonação estelar dessas só poderia ser uma ameaça preocupante à Terra se ocorresse a até 30 anos-luz de distância. Só que já temos um bom conhecimento a respeito de tudo que está entre nós até esta distância, e não há estrela alguma nesta faixa que esteja "próxima" de explodir. Além desse horizonte existem sim algumas candidatas a supernovas, mas tudo que fariam a nosso planeta seria brilhar tanto, mas tanto, que deixariam a Terra sem noite por, talvez, até 01 mês inteiro.

É isto que aconteceria se alguma estrela
massiva próxima explodisse: queimaríamos!
Dentre estas candidatas, duas são bastante possíveis de se tornarem realidade. Uma é Eta Carinae, da constelação da Quilha, distante 7.500 anos-luz de nós. A uma distância dessas, não representa perigo algum para nosso planeta, uma vez que a maior parte da energia, radiação e raios gama provenientes da explosão seriam absorvidos pelo espaço. Ainda assim, seria uma detonação tão monumentalmente grande que traria até aqui um brilho 10 vezes mais intenso que o da Lua no céu.
A outra já é mais preocupante... T-Pyxidis, da constelação da Bússola. Sua distância é 3.260 anos-luz, quase 03 vezes mais perto que Eta Carinae. Muitos astrônomos acreditam que ela poderia causar danos significativos não só em nossos equipamentos eletrônicos, mas também à nossa camada de ozônio e, consequentemente, à humanidade. Todavia, outro tanto de profissionais afirma que, quando a atual Nebulosa do Caranguejo explodiu a uma distância de 6.500 anos-luz no ano 1.054, a humanidade sobreviveu sem sequer se dar conta.
De qualquer forma, não se preocupe: T-Pyxidis só vai explodir em uns 10 milhões de anos. Nenhum ser humano estará aqui.

Se estrelas pequenas se transformam em nebulosas e estrelas grandes se transformam em supernovas, estrelas gigantes se transformam em algo tão assustador quanto desconhecido. Estamos falando dos BURACOS NEGROS.


Buracos negros deformam o espaço e mesmo o próprio tempo
onde estão... para entender isso, só sendo um físico – e você já
reparou que todo físico tem cara de doido?
Um buraco negro "nada mais" é do que uma monumental concentração de matéria num espaço minúsculo, surgida quando estrelas grandes demais chegam ao fim da vida e sua matéria enorme é tão pesada que desaba sobre si mesma... é, é meio estranho de se imaginar. E, em física, tudo que tem muita massa tem também muita gravidade, atraindo as coisas para si. Um buraco negro do tamanho de um núcleo atômico pesaria 01 bilhão de toneladas... sim, é difícil compreender isto também, mas o fato é que eles existem, e podem inclusive estar zanzando por aí.

Com relação a eles, foi proposto que tenham sido a causa do já citado evento de Tunguska, quando um deles teria atravessado o planeta. Contudo, nada foi relatado do outro lado do mundo, onde ele deveria ter saído. Além do mais, saberíamos se fôssemos atingidos por um: ao atravessar o planeta, o dito cujo faria nosso núcleo vibrar em ondas simetricamente esféricas, fazendo o mundo todo (todinho) sofrer um terremoto de igual magnitude, embora imperceptível para nós apenas os sismógrafos o registrariam. Algo que jamais aconteceu. Calcula-se que isto até aconteça, mas a intervalos de 10 milhões de anos.

Ai, mamãe! Vão ligar o LHC lá na Suíça! Uiiii...
A alguns anos atrás, quando o Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês Large Hadrons Colider), a maior máquina já construída pela humanidade, foi terminado, muitos tentaram impedir seu funcionamento alegando que isto poderia gerar um buraco negro capaz de destruir a Terra e mesmo o universo inteiro. Mas aqui também não há motivo para pânico, ao menos não imediato: um dos maiores gênios (se não for o maior) da atualidade nos garantiu de que não há perigo em se ligar o LHC. E ele, talvez mais do que ninguém, tem todo interesse em ver a máquina funcionando e aumentando ainda mais o conhecimento da humanidade acerca do universo – e da própria natureza dos buracos negros, dos quais ainda se sabe tão pouco.
Pô, legal... então se um mini-buraco negro cair aqui não será o nosso fim. Mas... e se fosse um buraco negro grande? Primeira coisa, ele não cairia aqui – nós é que cairíamos nele. Isso porque o conceito de "grande" neste caso é bastante curioso... um buraco negro do tamanho de uma bolinha de golfe teria mais massa que o planeta Terra inteiro, então seria ele que nos puxaria, fazendo com que começássemos a orbitar ao seu redor. O primeiro sintoma para nós seria o fim dos dias e noites do jeito que conhecemos. Quanto mais rápido a Terra girasse em volta dele, mais curtos seriam esses períodos. Depois, continuaríamos sendo puxados, nos aproximando dele num caminho em forma de espiral. Quando a Terra chegasse à borda do buraco, a atração num lado seria tão maior que no outro que o planeta arrebentaria. E a matéria que antes formava a Terra ficaria toda esticada, até se transformar em uma nuvem comprida e enrolada ao redor do buraco. Antes de ser tragado, o ex-planeta acabaria com um formato espiralado similar ao da nossa galáxia que por sinal, está agora mesmo girando em volta de um buraco negro. Só que imenso, que pode ter um diâmetro quase 130 vezes maior que o do Sol.

Agora pense: se um buraco negro do tamanho de uma bolinha de golfe tem mais massa que nosso planeta inteiro, a idéia de um universo inteiro concentrado num único ponto, como nos sugere o Big Bang, já não parece mais tão absurda assim, não é?

De qualquer maneira, trombando com meteoro, recebendo disparo de raios gama ou tomando rajada de alguma supernova, a Terra vai sim ser destruída por um cataclisma cósmico. Não se trata de se ou quando, é 100% certo que VAI acontecer e, ironicamente, o responsável vai ser justamente aquele que permite ao nosso planeta abrigar vida: nós e toda a vida do planeta Terra seremos exterminados com a MORTE DO SOL.

Se o Sol morrer, a Terra vai junto.
Nada a ver com as ejeções de massa coronal das tempestades solares... isso só ganha espaço na mídia por 02 razões: 01) destrói satélites, estações de rádio e equipamentos eletrônicos, e 02) origina as maravilhosas auroras boreais lá nos céus da Escandinávia. Enfim, causam apenas danos materiais, e não é sobre isso que estamos tratando aqui. Idem aos pulsos eletromagnéticos, trazem prejuízos materiais e econômicos enormes, mas ninguém morre diretamente por causa deles. A humanidade passou centenas de milhares de anos sem tecnologia artificial alguma e, ainda que a níveis extremamente primitivos, pode muito bem voltar a viver sem ela.

A estrela ficará tão imensa que seu equador
alcançará a órbita de Marte!
A disgracera se dará da seguinte maneira: como toda estrela, nosso astro-rei também tem um ciclo de "vida". No momento, ele encontra-se na fase anã amarela de sua existência, algo como um "trintão". Mas conforme envelhece vai gradualmente perdendo combustível, e quando o hidrogênio do núcleo for totalmente consumido ele vai começar a queimar o material das camadas mais externas, o que fará com que cresça inimaginavelmente até se transformar numa supergigante vermelha. E vai ser quando essa fase se iniciar que a Terra irá pras cucuias. Em no máximo 1,5 bilhão de anos, com o aumento da atividade solar (e da temperatura na superfície) os oceanos do planeta vão evaporar – e todas as formas de vida que porventura ainda estiverem aqui serão totalmente aniquiladas. Em 05 bilhões de anos, o sol estará tão monumentalmente grande que os planetas mais próximos, Mercúrio e Vênus, se espiralarão em direção à estrela e provavelmente serão vaporizados. De nossa linda Terra, restará apenas uma bola de rocha incandescente e liquefeita, sem qualquer relevo ou indício de vida. Tudo será completamente destruído.


Mas fique tranquilo! Já teremos desaparecido daqui muitíssimo antes disso. Depois dessa fase, quando até as camadas exteriores forem finalmente consumidas, o sol ficará muitíssimo pequeno e se transformará em uma fria, escura e totalmente sem graça estrela anã branca, encoberta pela nuvem de poeria e gases resultantes de seu próprio desgaste: uma nebulosa.
E ainda vamos ter sorte por isso! Não sendo uma estrela massiva, o sol não chegará a explodir como uma supernova e nem sucumbirá a si mesma como um buraco negro.

                         Prepare-se: Gliese-710 está chegando...                   
E tem muita coisa que nós nem sequer fazemos idéia que existam nesse universo gigante. E outras que, apesar de já conhecidas ou ao menos teorizadas, são tão estranhas que nem conseguimos imaginar! Astros que, de uma hora pra outra, simplesmente se direcionam para um lugar totalmente fora de sua órbita de repente. Já falei sobre como isso pode acontecer com os cometas, mas mesmo planetas e até estrelas podem, de uma hora pra outra, sair andando por aí! E se não nos impactarem diretamente, podem acabar provocando distúrbios em sua passagem com potencial para nos causar muita dor de cabeça. São os ASTROS NÔMADES. A estrela-anã Gliese-710 é um bom exemplo: ela está vindo pra cá neste instante, e astrônomos prevêem que ela, que hoje encontra-se na constelação da Serpente, a 63 anos-luz de distância, pode chegar a apenas 01 ano-luz de nós dentro de 1,4 milhão de anos. Ainda pode parecer longe, mas vai ser tão perto que gerará perturbações gravitacionais na Nuvem de Oort, e aí nós tamo fu, porque lá tem, por baixo, uns 100 bilhões de núcleos cometários... centenas de milhares dos quais, por causa desse distúrbio, serão lançados em nossa direção.

E claro, não podemos deixar que considerar a hipótese de aniquilação por FORÇAS EXTRATERRESTRES. Não é nada absurdo mas, como (ainda) não temos nenhum indício de vida fora da Terra, pouco podemos conjecturar à respeito. Por isso, sobre este assunto deixo vocês com as palavras de alguém que provavelmente entende mais sobre o assunto do que qualquer outra pessoa viva no planeta: Stephen Hawking.


"Nós só temos que olhar para nós mesmos para ver como vida inteligente pode evoluir para alguma coisa que não gostaríamos de encontrar. Se os alienígenas nos visitassem, as consequências seriam semelhantes às quando Colombo desembarcou na América, algo que não acabou bem para os nativos."

Parece que o desenvolvimento da racionalidade é fator negativo para a vida, seja na Terra ou em qualquer outro lugar. Que ironia.

Se você já tinha se achado insignificante lendo o artigo sobre desastres naturais, agora certamente está se achando pífio, nulo.
E para o universo, você ainda é menos que isso.


Que nós vamos desaparecer não se tem mais dúvidas. Só não sabemos como nem quando. Mesmo que nada aconteça em milhões de anos, o sol vai dar cabo de nosso planeta em bilhões. E mesmo que consigamos escapar à agonia de nossa estrela, não devemos nos esquecer de que o próprio universo pode ter um "tempo de vida" e entrar em colapso. A questão tempo é relativa nesse caso.

Os links de hoje estão aí:



Como dito antes, a única catástrofe que temos certeza que vai acontecer é aquela que acompanhará a agonia do sol. Tudo bem, só daqui a muito tempo e provavelmente bem depois do último ser humano sumir daqui, mas ainda assim vai. Contudo, muito antes disso, sempre poderemos estar à mercê de algum perigo desconhecido e dentre estes, o que mais mete medo certamente é o Galactus!