domingo, 26 de junho de 2011

O Calendário Cósmico


Calendários islâmico, cristão, judeu, solar, persa, romano, egípcio, chinês, juliano, gregoriano... existe praticamente um calendário para cada grande cultura ou religião humana, mas nenhum é tão fascinante quanto o chamado calendário cósmico.
A primeira vez que o vi foi na revista Superinteressante de novembro de 1987. Ainda me lembro quando a comprei – e da dificuldade em pronunciar o nome de Einstein.
O calendário cósmico foi uma ideia (incrivelmente) genial do (magistral, mítica e absolutamente) genial astrônomo americano Carl Sagan, que a descreveu em seu livro "Os Dragões do Éden" (Ed. Gradiva, 1977). Mais de 30 anos depois esta ainda é uma das formas mais didáticas de demonstrar a história do Universo.
Aliás, isto era o que Sagan sabia fazer melhor: divulgar ciência avançada de forma tão simples que até uma anêmona conseguisse entender. Enfim, Sagan é daquele tipo de gente que não devia morrer nunca, tamanha sua importância atemporal para o mundo.


Nesta postagem você conheceu a insignificância do ser humano com relação ao seu tamanho e capacidade física. Agora, você verá o mesmo com relação ao tempo.

A humanidade aprendeu a medir os acontecimentos da vida pela contagem das horas, dias, meses, anos e décadas; os acontecimentos históricos podem ser acompanhados por séculos e milênios; os geológicos por períodos, eras e éons. Mas tentar quantificar o que costuma ser quase incompreensível – o real significado da idade do universo – requer medidas de tempo grandes demais. É exatamente para isto que foi criado o calendário cósmico, que condensa os presumíveis 15 bilhões de anos de existência do cosmo em um único ano, onde suas divisões tradicionais são convertidas da seguinte maneira:

01 segundo = 500 anos
01 minuto = 30 mil anos
01 hora = 1 milhão e 800 mil anos
01 dia = 43 milhões de anos
01 mês = 1 bilhão e 290 milhões de anos


Mas então... vamos começar a viagem?

Em seu 1º semestre momentos isolados, mas importantes, do desenvolvimento do universo são verificados. Nos últimos 04 meses, acompanhamos os primórdios do planeta e, em dezembro, a explosão da vida. No último dia testemunhamos a aurora da humanidade e, nos últimos segundos, o surgimento da História.

01 de janeiro: Big Bang, a grande explosão que deu origem à tudo.
01 de maio: formação da nossa galáxia, a Via Láctea.
01 de setembro: origem do Sol e formação do sistema solar.
14 de setembro: nascimento do planeta Terra.

A partir dessa data os dados são apresentados em pormenores específicos do nosso planeta.
O imaginário ano cósmico revela o incrível tempo gasto na formação de um sistema e depois de um corpo sólido no espaço o planeta. Mostra também a relativa rapidez com que a vida se instalou na recém-nascida Terra. Isso leva alguns cientistas a supor que a vida não é um fenômeno tão raro como já se imaginou. Senão, vejamos: da grande explosão que originou o Universo, passam-se aproximadamente 260 dias cósmicos até o surgimento da Terra que, em apenas 11 dias, gera a vida.

A substância do planeta transformada em matéria viva caminha em velocidade crescente a níveis de estrutura cada vez mais sofisticados: moléculas com limitada capacidade de replicação surgidas em meados de setembro evoluem para complexas bactérias e algas já em outubro – seres que, apesar da aparente simplicidade, agremiam o funcionamento harmônico de centenas de milhões de moléculas.

25 de setembro: surgem as primeiras formas de vida.
09 de outubro: aparecem as células procariontes (bactérias).
01 de novembro: os microorganismos desenvolvem a reprodução
sexuada; formação das mais antigas rochas conhecidas.


A descoberta do sexo pelos microorganismos no dia 01 de novembro e a consequente troca de informação genética ampliam assustadoramente a velocidade da evolução, premiando a Terra com as primeiras células dotadas de núcleo, bem como organismos capazes de transformar a energia solar em nutrientes e liberando, a partir desse processo, um gás decisivo para a vida do planeta: o oxigênio.

12 de novembro: aparecem os primeiros seres fotossintéticos.
15 de novembro: surgem as células eucariontes (com núcleo).




01 de dezembro: a atmosfera começa a se encher de oxigênio.

75% da tempo da história da vida na Terra pertence única e exclusivamente aos micróbios. Contudo, vira o mês de dezembro e a marcha dos seres vivos não toma mais conhecimento de obstáculos. Após a conquista do mar pelo plâncton e os invertebrados, estes avançam sobre a terra firme; mais algumas horas e o céu também está vivo, repleto de insetos alados. Para não perder de vista as dimensões de tempo aqui envolvidas, lembremos que no dia 16 de dezembro cósmico a mais sofisticada forma de vida existente na Terra eram os vermes. Míseros 08 dias depois os gigantescos dinossauros saurópodes com 30m de comprimento e outras tantas toneladas de peso já marchavam sobre o planeta.

16 de dezembro: aparecem os primeiros vermes.
17 de dezembro: o Período Cambriano presenteia o planeta com a
primeira grande explosão de vida; os invertebrados lotam o oceano.
18 de dezembro: origem do plâncton oceânico; os trilobitas dominam os mares.
19 de dezembro: no Ordoviciano surgem os primeiros peixes,
ainda sem nadadeiras e mandíbulas.
20 de dezembro: Siluriano; origem das plantas vascularizadas
em terra firme e, no mar, aparecem os peixes sarcopterígeos.
21 de dezembro: Devoniano; os primeiros insetos terrestres fazem
os vertebrados sair da água.
22 de dezembro: surgimento dos primeiros anfíbios; os insetos
alados povoam os céus.
23 de dezembro: Carbonífero. As pteridófitas dominam a terra firme;
surgem as primeiras árvores.
24 de dezembro: início do Permiano; começa o reinado dos répteis.
25 de dezembro: a grande extinção do fim do Permiano abre caminho
para o império dos dinossauros.
26 de dezembro: de forma tímida, os mamíferos também iniciam sua escalada.
27 de dezembro: os dinossauros terópodes desenvolvem penas
e a capacidade de voar... e se transformam em aves.
28 de dezembro: surgem as primeiras plantas com flores; à noite,
um impacto cósmico devastador extermina os dinossauros.
29 de dezembro: a saga humana se inicia com o aparecimento dos
primeiros primatas.
30 de dezembro: o lobo frontal no cérebro dos primatas começa
a se desenvolver; surgem os mais antigos hominídeos conhecidos.


Os primatas mais derivados passaram a ter consciência de si próprios e transformaram a própria vida e o ambiente de forma cada vez mais veloz. Todos os acontecimentos daqui em diante ocorrem a partir da segunda metade do último dia do ano.

13:30h - surgimento do Proconsul e do Ramapithecus, ancestrais
dos grandes primatas - e do homem.
22:30h - nas savanas da África surge o Homo sapiens.
23:00h - o homem aprende a fabricar utensílios de pedra.
23:46h - na China inicia-se o uso do fogo.
23:56h - início da última Era Glacial.
23:58h - navegantes primitivos descobrem a Austrália.
23:59h - nas cavernas da Europa tem início a história da arte.

Com o aprimoramento da inteligência, os marcos da história humana deixam de acontecer em minutos para se tornarem questão de segundos cósmicos. É isso que tornou possível a mim pesquisar e digitar – e a você ler e entender – este texto.

23:59'20" - invenção da agricultura.
23:59'35" - o homem neolítico cria as primeiras cidades.
23:59'48" - na Mesopotâmia é criada a escrita cuneiforme - é o início oficial da História.
23:59'50" - florescem as grandes dinastias no Egito e na Suméria.
23:59'51" - invenção do alfabeto.
23:59'53" - Idade do Bronze; no oriente, os chineses inventam a bússola.
23:59'54" - Idade do Ferro; fundação da cidade de Cartago.
23:59'55" - nascimento de Buda e Confúcio.
23:59'56" - civilização grega e Império Romano; a ciência acelera
com Euclides (geometria), Arquimedes (física) e Ptolomeu (astronomia).
23:59'57" - queda do Império Romano; invenção do sistema numérico decimal.
23:59'58" - nascimento dos impérios maia e bizantino; no Oriente Médio,
iniciam-se as Cruzadas.
23:59'59" - a Europa vive o Renascimento e a Era dos Descobrimentos;
Descartes cria o método experimental científico.
00:00'00" - AGORA: desenvolvimento da ciência e da alta tecnologia.
As comunicações unificam o mundo. Naves exploram o espaço na
busca por vida extraterrestre. O homem tenta criar a inteligência
artificial.

De acordo com esta contagem hipotética de tempo, OUTRA contagem, também hipotética mas totalmente fantasiosa, nos dá conta de que o mundo foi formado em apenas 6.000 anos... mais ridículo que isso só saber que milhões de pessoas mundo afora acreditam cegamente nisto. E em pleno século 21...

Enquanto isso eu, com meus 35 anos incompletos, teria apenas 0,07s ou 7 centésimos de existência. Desprezivelmente imperceptível.

Pra finalizar, deixo-os com as palavras do próprio criador do calendário cósmico, Carl E. Sagan:

A construção de quadros e calendários desse tipo é inevitavelmente humilhante. É desconcertante que, em tal ano cósmico, a Terra não se tenha condensado a partir da matéria interestelar antes do início de setembro, que os dinossauros tenham surgido na noite de Natal, que as flores tenham emergido no dia 28 de dezembro e os homens e mulheres tenham aparecido às 22:30h do último dia do ano. Toda a história conhecida ocupa os últimos 10 segundos do dia 31 de dezembro, e o tempo compreendido entre o declínio da Idade Média e o presente ocupa pouco mais que um segundo. Mas, em virtude de ter sido feito o arranjo desse modo, o primeiro ano cósmico acabou de findar. E, apesar da insignificância do instante que ocupamos até agora no tempo cósmico, é claro que o destino das coisas na Terra e em suas proximidades dependerá muito do conhecimento científico e da sensibilidade própria da humanidade. (trecho de Os Dragões do Éden)

Ah sim, os links! Separei algumas coisas interessantes que vão instruir e divertir você, querido(a) leitor(a):


quinta-feira, 9 de junho de 2011

A Primeira Grande Tragédia

Compartilhar o mundo nunca foi uma das maiores proezas humanas.

Destruí-lo, sim.




Os magníficos animais acima não existem mais a milênios. São apenas alguns dos muitos representantes da chamada megafauna do Pleistoceno e dos quais hoje só temos fósseis. Você vai ver outros no decorrer desta postagem.

Existem algumas explicações para seu sumiço, mas a mais válida e carente de refutações contrárias aponta para um único responsável: o homem.
É exatamente por este motivo que esta extinção se difere de todas as outras anteriores. Pela primeira vez na história da vida na Terra uma espécie, e não um evento geológico/climático/cósmico, foi responsável por um evento de extinção em massa.

Mas como se pode afirmar que foi o homem o responsável por esse massacre? A melhor das teorias a respeito foi proposta pelo paleoecologista americano Paul Martin, que em 1967 elaborou uma tese complexa e muito bem fundamentada que joga NO HOMEM a culpa pela catástrofe animal na América do Norte. Coincidindo com as possibilidades a respeito da entrada do homem no continente, a aproximadamente 13 mil anos, iniciou-se um processo arrasador de extinções que, até o começo do seguinte e atual Holoceno, já tinha exterminado mais de 40 gêneros de grandes animais (a maioria mamíferos): mamutes, mastodontes e várias outras espécies de elefantes, preguiças gigantes, ursos gigantes, leões gigantes, camelos, antas, alces, tigres dentes-de-sabre, mais de 20 espécies de cavalos e diversas outras de cervídeos e antilocapras... enfim, mais de 60 espécies de grandes mamíferos que à época sumiram quase que instantaneamente.

Paul Martin: "Quando a humanidade deixou
a África e a Ásia e alcançou outras partes do
mundo, o inferno se desencadeou
".



Mesmo quando a humanidade ainda se resumia ao simples e diminuto Homo erectus já tinha a capacidade de fabricar machados e cutelos rudimentares. Mas na época em que alcançaram a América, 13 mil anos atrás, já eram Homo sapiens a pelo menos 50 mil anos. Com seus cérebros gigantes e milênios de aprendizado de sobrevivência e estratégias de caça, entraram aqui detonando com tudo. Um bom exemplo é o povo de Clovis que, segundo datações, chegou à América do Norte a 13.320 anos. O que comprova que eram caçadores é a presença, em seus sítios arqueológicos, de ossos de mamutes e mastodontes com marcas de lanças. Além disso, análises bioquímicas comprovaram que suas pontas de lança foram usadas em cavalos e camelos.


Sua teoria é bastante contestada, mas também tem defensores, que acrescentam ainda que o homem não apenas pode ter caçado esses animais até a total extinção, como também lhes transmitido doenças às quais eles não eram imunes. Também cogita-se que o domínio do fogo contribuiu, alterando o habitat original de tal forma que os animais não conseguiram se adaptar.



A principal questão levantada por seus detratores é o fato de não se saber exatamente em que momento – nem por onde – o homem invadiu o continente. Algumas pesquisas sugerem que ele tenha chegado mais cedo, até à 14 mil anos atrás, e isso em se tratando de América do Norte. Na América do Sul a coisa pode ter sido ainda mais antiga, com a migração de polinésios via mar até a parte meridional do continente. Existe um sítio arqueológico humano no Chile, Monte Verde, que tem 14.800 anos. Mas foi em Minas Gerais que foi encontrado o fóssil humano mais antigo da América, Luzia, com idade calculada em 11.400 anos. Ou seja, podem ter havido várias correntes migratórias humanas à América no decorrer do tempo. Nota: em Monte Verde foram encontrados ossos de mastodonte e diversos pedaços inacreditavelmente bem preservados de couro e até carne de caça, o que mostra que aquele povo não era apenas coletor, mas também matava animais.

Pontas de lança do povo de Clovis, da América do Norte.

Outra tentativa de refutar a teoria é baseada nos modelos predador-presa, que demonstram ser pouco provável que predadores cacem suas presas à extinção, pois precisam das mesmas sempre disponíveis como alimento. Contudo, o homem tem maior variedade de dieta do que qualquer outro animal e é perfeitamente capaz de mudar para presas alternativas ou até mesmo alimentos de origem vegetal, quando a caça se torna rara – MAS NÃO O FAZ. O ser humano indiscutivelmente caçou inúmeras espécies até a total extinção, temos diversos exemplos bem documentados (e muitas vezes não por alimentação, mas por comércio, esporte, falta do que fazer, vontade de dar o rabo e etc). Estamos fazendo isso até hoje, o que torna qualquer argumento a respeito de os predadores não poderem caçar presas à extinção inválido. A culpa é nossa mesmo, não tem jeito.


Embora o gelo possa também ser culpado, acreditando-se que a mudança climática provocada pelo desaparecimento das geleiras e o subsequente aquecimento e ressecamento do planeta levaram à mudanças na paisagem que condenaram muitos animais totalmente adaptados ao frio à extinção, há de se levar em conta que animais não são plantas: podem se deslocar. Sítios arqueológicos europeus comprovam que o homem (tanto o H. sapiens como o H. neanderthalensis) se deslocava para o norte e para o sul de acordo com o avanço e recuo das geleiras. É totalmente razoável pensar que grandes animais – principalmente mamíferos, mais inteligentes – também fizessem o mesmo. Além do mais, a teoria da mudança climática atestaria para um evento global, e é sabido que as megafaunas africana e asiática foram pouco afetadas ao final da última glaciação. Também há o fato de que, em ilhas consideradas longe o suficiente do território recém-ocupado e que escaparam à colonização humana imediata, as espécies da megafauna por vezes sobreviveram por muitos milhares de anos depois de terem sido extintas no continente: exemplos incluem cangurus gigantes na Tasmânia, diversas espécies de preguiças gigantes nas Antilhas, as vacas marinhas de Steller ao largo das ilhas Commander, mamutes anões nas ilhas de Wrangel e Saint Paul, hipopótamos e elefantes anões em diversas ilhas do Mar Mediterrâneo e as outrora quase onipresentes tartarugas gigantes, presentes nas Ilhas Galápagos (anteriormente também na América do Sul), Seychelles (anteriormente também em Madagascar), Nova Caledônia e Lord Howe.


Outra teoria, já caída por terra, apontava o evento conhecido como Grande Intercâmbio Americano como o responsável pelo aniquilamento de muitas espécies sul-americanas. O que ocorreu, na verdade, foi sua migração para o norte – o mesmo ocorrendo no sentido contrário – quando a faixa de terra que hoje forma o Panamá emergiu do leito oceânico e uniu as duas partes da América numa só. Para cá vieram elefantes, cervídeos, canídeos e felídeos, camelos e lhamas, antas e cavalos, roedores e lagomorfos dentre outros; para lá, foram preguiças gigantes, tatus gigantes, aves ratitas, capivaras, araras e peixes de água doce. É claro que houve extinções com a introdução de novos elementos nos dois ambientes, mas alguns animais, embora extintos em seu terreno original, prosperaram no novo ambiente, como é o caso da anta na América do Sul. E, mesmo após a chegada dos humanos, a razão pela qual a maior parte dos grandes mamíferos conseguiu sobreviver na América do Sul (e não há exemplos do padrão oposto) pode ter sido a densa floresta tropical da bacia amazônica e os altos picos dos Andes, que ofereceram um grau extra de proteção contra a predação do homem.
Todavia, isto foi a 3 milhões de anos... muito antes, portanto, do surgimento da própria humanidade moderna.

Contudo, a coisa começou bem antes e bem longe dali, no sudeste asiático, portal de entrada para a Austrália. Quando o homem a alcançou, 48 mil anos atrás, o surto de extinções começou imediatamente. O massacre lá foi tamanho que, dos 16 gêneros de grandes animais que existiam, apenas 01, Macropus (das atuais espécies de cangurus), sobreviveu.  Em alguns lugares da Austrália existem verdadeiros campos de ossos, como em Wairau Bar, onde o chão está repleto de ossos de moa, com uma estimativa de 9 mil indivíduos e 2.400 ovos. Em Waitaki Mouth existem restos de um número estimado de 30 a 90 mil moas. É bastante confiável afirmar que a causa foi direta ou indiretamente humana pois a Austrália não sofreu tanto com as geleiras da última glaciação, por exemplo.

Histórico da ocupação humana mundial. Quanto mais
longe, maior a matança.

Se o homem nunca tivesse evoluído, ou ao menos nunca tivesse aparecido por aqui, a América do Norte teria pelo menos 03 vezes mais animais com peso superior a 500kg do que a África hoje – com seus elefantes, hipopótamos, girafas e rinocerontes brancos e negros – e 05 vezes mais exemplares de grandes mamíferos. O continente africano, por sinal, manteve-se mais intacto, mesmo sendo o berço da humanidade e tendo que evoluir com ela a mais tempo.
África e Ásia ao sul, aliás, são as únicas regiões do planeta que ainda possuem mamíferos gigantes, com mais de 1 tonelada de peso. Na América, apenas o bisão norte-americano ultrapassa tal peso. De uma forma geral, a região dos trópicos manteve-se relativamente intacta, embora algumas espécies também desapareceram nessas áreas sem deixar substitutos comparáveis. Também neste caso, ao menos alguns desses sumiços foram culpa do homem.

Não fosse a invasão humana às ilhas do Mediterrâneo ainda teríamos elefantes
pigmeus do tamanho de cisnes vagando por Chipre, Sicília, Creta e Malta...

... assim como ainda veríamos o monstruoso Megalania caçando
moas gigantes, se o homem não tivesse chegado à Oceania.





Mas por que a megafauna africana foi preservada, enquanto a de outros continentes quase desapareceu por completo? Existem algumas boas explicações para isso. Pra começar, a África é o berço da humanidade. Homem e animal cresceram juntos, e estes logo se aperceberam do que aquele primata bípede era capaz. Desta forma, já sabiam que se tratava de uma ameaça. Ao mesmo tempo, ao deixar sua terra natal, a espécie humana teve que se adaptar à diversas novas condições ambientais mundo afora, como o gelo da Europa por exemplo. Isto a obrigou a capacitar-se, fazendo-a tornar-se mais inteligente, o que também a levou a desenvolver sua tecnologia – e suas armas. Conforme ia avançando para o leste, o homem aperfeiçoou-se a tal ponto que, quando chegou à América, último panteão intocado da vida selvagem no mundo, já era um caçador eficiente e letal.
Junte a isto o fato de que os gigantes norte-americanos, quando viram aquela criatura nanica de duas pernas com aparência tão frágil, não encontraram nenhuma razão para temê-lo. E isto decretou seu fim – quando perceberam, já era tarde demais. Mais de 70% das grandes espécies norte-americanas de mamíferos desapareceram no período de mil anos após a chegada dos primeiros seres humanos na América.


Mas por que a megafauna africana foi preservada, enquanto a de outros continentes quase desapareceu por completo? Existem algumas boas explicações para isso. Pra começar, a África é o berço da humanidade. Homem e animal cresceram juntos, e estes logo se aperceberam do que aquele primata bípede era capaz. Desta forma, já sabiam que se tratava de uma ameaça. Ao mesmo tempo, ao deixar sua terra natal, a espécie humana teve que se adaptar à diversas novas condições ambientais mundo afora, como o gelo da Europa por exemplo. Isto a obrigou a capacitar-se, fazendo-a tornar-se mais inteligente, o que também a levou a desenvolver sua tecnologia – e suas armas. Conforme ia avançando para o leste, o homem aperfeiçoou-se a tal ponto que, quando chegou à América, último panteão intocado da vida selvagem no mundo, já era um caçador eficiente e letal.
Junte a isto o fato de que os gigantes norte-americanos, quando viram aquela criatura nanica de duas pernas com aparência tão frágil, não encontraram nenhuma razão para temê-lo. E isto decretou seu fim – quando perceberam, já era tarde demais. Mais de 70% das grandes espécies norte-americanas de mamíferos desapareceram no período de 1000 anos após a chegada dos primeiros seres humanos na América.

E isso em se tratando apenas de América do Norte. A extinção ocorreu em escala mundial.


Na África, apenas 02 de 44 gêneros foram extintos (4,5%); a Europa já sofreu um pouco mais, perdendo 07 de 23 (30%), as Américas foram as que mais perderam em quantidade, com 79 de 103 gêneros exterminados (77%); mas em porcentagem, foi a Oceania que, com o sumiço de 15 de 16 gêneros (94%), foi o continente mais arrasado de todos.
A variedade de espécies exterminadas surpreende pela beleza dos animais – e pela tristeza de sua perda. Teríamos ursos, elefantes, cavalos, camelos e tantos outros animais na América do Sul (vale lembrar que os cavalos atuais foram trazidos pelos navegadores europeus); nas ilhas do Mediterrâneo ainda haveriam várias espécies de hipopótamos e elefantes anões e, na Nova Zelândia, se os polinésios não tivessem chegado a aprox. 2.000 anos, ainda viveriam as fantásticas moas gigantes; a ilha de Madagascar, a leste da costa africana, possuía – e ainda possui – uma das faunas mais fantásticas do planeta. Quando o homem apareceu, também a 2.000 anos, quase toda a megafauna da ilha foi destruída, incluindo 08 espécies da maior ave de todos os tempos, a ave-elefante (Aepyornis), 17 espécies de lêmures primitivos, 03 espécies de hipopótamos, 02 espécies de porco-formigueiro, tartarugas gigantes e etc.
Muitas espécies foram extintas quando os seres humanos atravessaram o Pacífico, a partir de 30.000 anos atrás, no arquipélagos de Bismarck e Ilhas Salomão. Estima-se atualmente que, dentre as espécies de aves do Pacífico, cerca de 2.000 espécies foram extintas desde a chegada dos seres humanos.

A fauna continental foi arrasada conforme a humanidade avançava pelo planeta. Mas ilhas mais distantes e isoladas permaneceram incólumes por séculos, até milênios a fio... até que – sempre ele – o homem dominou a navegação, isso a uns 500 anos. Foi o início da segunda leva de destruição em escala mundial da vida animal. Várias espécies de tartarugas gigantes e outras tantas de aves desapareceram, incluindo o famoso dodô das Ilhas Maurício e o solitário das Ilhas Rodrigues. Mas esta fica para a próxima postagem.

E o pior de tudo é que aquelas extinções mais antigas causam prejuízos ao planeta até hoje! Quando uma espécie se vai, leva consigo outras (e não são poucas) que dependiam dela para sobreviver, no que é conhecido por anacronismo biológico. O meio ambiente sente falta desses organismos até hoje. É CLAAAAARO que ele pode se recuperar  como sempre o fez mas, em tempo geológico, 10.000 anos não é nada, não é suficiente.

Ainda veríamos preguiças colossais nos campos sul-americanos...
... e aves titânicas assombrando as pradarias da América do Norte.

Paul Martin defende que, como solução, sejam "importados" animais atuais, similares aos que foram exterminados, para reocupar esses nichos ecológicos, numa estratégia chamada "ressurreição ecológica": leões e elefantes africanos seriam colocados nos parques nacionais americanos para tentar restabelecer o equilíbrio, cumprindo o papel de seus parentes extintos. É polêmico? Muito, mas o homem fez – e faz – coisa muito mais polêmica que isso e ninguém dá muita importância.

Provavelmente nem você, que está lendo isso agora.

Pra finalizar, quero dizer que estas espécies que apareceram aqui primeiro foram extintas, depois identificadas. Mas, ao invés de nos lamentarmos, deveríamos nos preocupar com as que estão sendo extintas sem nem mesmo sabermos de sua existência. Sim, está acontecendo nos dias atuais, neste exato momento (veja AQUI).

E os links de hoje são esses:


A maioria das ilustrações foi compilada a partir de imagens retiradas do excelente site Habitantes do Mundo Antigo (em japonês).

Também não posso deixar de indicar o fabuloso livro O Mundo sem Nós (Ed. Planeta do Brasil, 2007), de Alan Weisman.