sexta-feira, 8 de abril de 2011

A Pressão da Realidade sobre a Ilusão

Ou: O Eterno Embate Ciência x Religião


Muitos dizem que esta “luta” é equivocada, outros que, na verdade, ambos os lados têm e procuram o mesmo objetivo, e há ainda aqueles que afirmam que tal disputa é inexistente. Mas ela existe.

Não só existe como está passando, nas últimas décadas, por uma surpreendente e muito bem vinda reação. Da ciência. Da inteligência. Da razão.
Depois de séculos e mais séculos de terror e submissão, a religião vem caindo por terra.

Na verdade, é comum acharem que a ciência reduz o homem. Nada mais longe da verdade, a ciência apenas coloca o homem em seu devido lugar – ao contrário da religião, que o engrandece muito além do que jamais mereceu.

A religião ilude e coloca o homem nas alturas...
... enquanto a ciência mostra a verdade e coloca o homem em seu devido lugar.

Num tempo em que seu poder era quase supremo, ela calou vários homens que procuraram demonstrar a verdade científica ao mundo. Agora, com o crescente decréscimo de sua influência virulenta e o avanço inevitável e COERENTE da ciência, ela se vê forçada a admitir muitas de suas cagadas do passado – mas ainda não abre mão de sua secular prepotência! Ela já libertou Galileu Galilei dos grilhões do inferno, ante a absurdamente óbvia constatação de que a Terra girava de fato em torno do Sol. Pena que demorou um pouquinho (350 anos) para isso e ainda teve o deboche de homenageá-lo no Ano Internacional da Astronomia, em 2009. Não sei se o que digo a seguir se concretizou, mas parecia que iam até construir uma estátua em tamanho natural nos jardins do Vaticano. Chegaram ao disparate de dizer que fizeram bem em condená-lo pois, à época, ele "não havia defendido bem" sua tese de que a Terra gira ao redor do Sol.

"A Igreja deseja honrar a figura de Galileu, genial e inovador e
filho da Igreja." (Arcebispo Gianfranco Ravasi, presidente do
Conselho Pontifício para a Cultura)

Leu a legenda? Agora me diga que "mãe" é essa que condena um filho genial que faz uma das maiores descobertas de seu tempo...?
De uma hora pra outra é assim: de repente, assim do nada, a Igreja inocenta um homem INOCENTE de um crime que ele NÃO cometeu e do qual SÓ ELA o acusou. Aí pede uma desculpinha aqui, faz uma estatuazinha ali e todo mundo acha o papa O humilde por assumir um erro na frente de todo mundo. Bom, bonito... e barato!
Hipocrisia (talvez até ironia) em seu mais alto grau! A Igreja quer fazer uma homenagem a Galileu? Pois que retire suas opiniões imbecis sobre camisinha ou então pare de tentar impedir as promissoras pesquisas com células-tronco, por exemplo. Também poderia parar de ensinar a palhaçada do criacionismo nas escolas. Garanto que Galileu se sentiria muito mais recompensado, e o mundo se tornaria um lugar infinitamente melhor.

Resta saber quando ela finalmente o fará com Charles Darwin... se a lerdeza em admitir que está grotescamente errada for similar, só dará o braço a torcer em 2232 – se bem que esse povo do Vaticano é atrasado, retrógrado, mas não é burro. Eles já se tocaram de que a Teoria da Evolução é mais do que uma realidade, é um fato, e já começaram a se tocar com relação a isso.

“Deus acima de tudo como criador absoluto e, assim sendo, não
há incompatibilidade entre a Bíblia e a Teoria da Evolução" (Cardeal
William Levada, presidente da Congregação para a Doutrina da Fé)

Outro dogma milenar da Igreja Católica está começando a esmorecer neste início de milênio: ela finalmente está aceitando algo que nem a própria ciência conseguiu ainda comprovar: a existência de vida extraterrestre (veja aqui). Mas, como nos casos anteriores, ela diz que esta possibilidade não discorda da Igreja, mas sim que a corrobora! Já os coloca, de antemão, como filhos de Deus, e vão ainda mais longe: consideram-nos seres que ainda não cometeram o pecado original! aHUAhuAHUAhuAHUahuaHUA !!!!

"Tal como existe uma multiplicidade de criaturas na Terra, poderia
haver outros seres, igualmente inteligentes, criados por Deus"
(Padre José Gabriel Funes, diretor do Observatório do Vaticano)

Percebam que neste caso ela está se ANTECIPANDO à ciência. Dessa forma, ela fortalece suas credenciais científicas ao mesmo tempo em que se coloca em sintonia com o mundo atual a ideia de vida extraterrestre já é aceita pela maioria das pessoas. Tudo para não ficar de fora, afinal hoje em dia  e para quem tem um mínimo de inteligência a  razão seduz muito mais do que a superstição, mesmo em um mundo ainda assombrosamente dominado pelo sobrenatural.


Contra a ciência, ninguém pode. Nem Deus. ;)




Ainda bem que Albert Einstein nasceu em tempos mais modernos, ou sua Teoria da Relatividade seria considerada uma heresia horrível, e provavelmente um dos cérebros mais espetaculares da história da humanidade teria virado carvão em alguma fogueira da Santa Inquisição!


O grande diferencial que a ciência tem em relação à sua contraparte é que ela é permeada, mesmo com todas as evidências a favor, por uma, digamos, humildade sobre o próprio conhecimento que a faz (quase sempre) negar certezas absolutas, mantendo os cientistas sempre abertos à possibilidade de que a mesma possa estar errada, ao passo que a religião jamais aceita estar errada – noutros tempos até mandava matar quem o dissesse – mesmo que o esteja de forma absurdamente aberrante. A ciência sempre aceita um erro; a religião, jamais. E é justamente esta possibilidade que a faz evoluir e aperfeiçoar-se. Para entender melhor, veja a figura abaixo.






Enfim, lhes mostrei três exemplos da religião dando razão à realidade da ciência (02 delas comprovadas). Existem muitas outras e não tardarão a aparecer outras mais. Ela precisa se aproximar da ciência para manter sua credibilidade; já a ciência não precisa da religião em nenhuma hipótese.
Mesmo assim e apesar de tudo, a religião mantém-se sempre como a detentora da razão final em tudo: para ela, a ciência está aí apenas para comprovar a obra de Deus, a exatidão bíblica e
blá-blá-blá.
Isso me lembra de um ato extremamente desagradável, ignorante e insensato (mais um, aliás) cometido pelo lord Sith, digo, papa Benedictus XVI, quando defendeu a invasão europeia e a destruição das culturas indígenas sul-americanas. Mas isto é assunto para uma próxima postagem, aguardem. :)







E vamos aos links! Hoje separei pra vocês dois sites divertidíssimos, que PROVAM a corretude cristã em praticamente qualquer assunto, com argumentos muuuuuito convincentes:

http://techjunior.wordpress.com/
http://mauevivian.blogspot.com/

sábado, 2 de abril de 2011

O Fim das Religiões...


... mas não do religioso.

Há uma diferença marcante entre ambos.

Acabei de ler um livro tão interessante quanto complexo, Depois da Religião (Ed. Difel, 2008), dos filósofos franceses Luc Ferry e Marcel Gauchet. É uma leitura bastante difícil e que requer muita atenção.

Dentre as muitas ideias ali apresentadas, gostei particularmente da “Divinização do Humano”, proposta por Gauchet, que sugere que a religiosidade moderna tem tomado um caminho horizontal (do homem para o homem) e não mais vertical (do homem para o Deus).

Mas o que é o sagrado, na atual sociedade? Está destinado a desaparecer ou irá se reinventar, mudando de símbolos? A natureza hoje em dia é extremamente sacralizada, não só pela noção de que a estamos destruindo, como da ideia do quanto ela, em toda sua grandiosidade e diversidade, pode mesmo ser considerada “divina”. Creio que seja esse tipo de crença que Charles Darwin possuía – e eu também. Mas no sentido de fascínio pelo que ela é, não de temor, veneração ou subserviência a ela. Será que não basta pensar em quanto o mundo natural é maravilhoso sem ter que meter nele um monte de seres mágicos? Não se pode olhar a natureza e ver que sua beleza é intrínseca, sem achar que foi alguém que a criou? Só porque o ser humano tem a capacidade de criar não significa que tudo o mais também tenha forçosamente que ter sido criado. A beleza do mundo natural está, exatamente, no fato de não ter sido projetada por ninguém, e é precisamente isto que a faz ainda mais bela e fantástica.



Não é o bastante ver que um jardim é bonito sem ter que acreditar também que há fadas escondidas nele? (Douglas Adams)


Mas apesar de tudo isso uma coisa ainda é certa: o sentido religioso não mudou e nem nunca vai mudar: sempre será o ato de adorar/acreditar/venerar alguma coisa. O que está mudando atualmente é o ALVO: não é mais algo que acredita-se existir – Deus; agora é algo que DE FATO existe – o próprio homem. Mais: não se faz mais o correto, o bom ou o justo por temor a algum ser sobrenatural que esteja nos olhando e virá a nos julgar por isso, mas sim porque fazer o correto, o bom e o justo... é correto, bom e justo!
E, mesmo para aqueles que ainda seguem o inexistente, o conteúdo de suas doutrinas já não lhes são mais tão claros, tão sedutores, tão envolventes – e é exatamente por isto que estão migrando para dentro de si, e não mais para dentro de um templo, seja ele uma igreja, uma sinagoga, uma mesquita, um terreiro...

Uma espiritualidade laica não só é possível como é inevitável, e vemos esse fenômeno crescer dia após dia. Afinal de contas, num mundo informado como o de hoje, ninguém mais aceita este, este, este, este ou este tipo atitude.
Ademais, a grosso modo, religião nada mais é que uma forma de política, como um partido ou uma ideologia. Então, trocá-la por outro partido não é nada tão de saltar os olhos assim.

E por que isto acontece? Porque as religiões tradicionais, e mesmo as mais modernosas não trazem mais as respostas que as pessoas querem ou mesmo precisam. Com efeito, a filosofia e a ciência têm conseguido cada vez mais fornecer explicações (leia-se soluções) longe do campo religioso e mais dentro do campo prático, verdadeiro, coerente. Esta é uma das (muitas) falhas às quais a religião não consegue se desprender, simplesmente porque não há nada de prático, verdadeiro ou coerente em seus livros e/ou rituais. Seus valores NÃO SÃO seus, nem de fato nem de direito, mas todos emprestados da vida real e arregimentados em seus conjuntos de ensinamentos de forma deturpada e – SEMPRE – favoráveis à própria instituição como objetivo último, e não às pessoas.





Ainda nessa linha de raciocínio, o temor histórico que a religião sempre incutiu na mente das pessoas já não assusta mais. O inferno já não parece mais tão horroroso – quem ainda teme ir para lá hoje em dia?e a concepção tradicional do paraíso soa hoje como absolutamente entediante: pular de nuvem em nuvem tocando uma harpinha deve ser simplesmente um porre!


Céu ou inferno...? Desse jeito fica difícil escolher.

Especialmente na Europa Ocidental homem e Deus nunca estiveram tão separados como hoje, e não quero insinuar que seus maravilhosos índices sócio-econômicos são por conta disso – embora devam ser mesmo. Em diversos países do mundo, é verdade, mas especialmente lá é a própria sociedade que está começando a ocupar o papel administrador e legislativo de suas nações. Como já disse no penúltimo parágrafo, os valores ditos “cristãos” não são exatamente cristãos, são humanos, como vários outros de outras correntes religiosas. No fim, a humanidade está relaicizando (não sei se gramaticalmente isso existe) seus valores fundamentais, tomados pela Igreja como se fossem seus. Não se trata de uma nova safra de valores,  de forma alguma, apenas uma retomada daqueles que já existiam, mas que estavam falsamente sob domínio da religião, obscurecidos por seu pesado e pernicioso manto.

Percebendo isso, as religiões precisam motivar seus fiéis a: 1) se manterem na crença e 2) trazer novas ovelhinhas para o rebanho. Assim sendo, é compreensível que os religiosos queiram trazer um Einstein ou um Darwin para seu lado do campo, afinal reforços de peso assim são sempre desejáveis ao time. Mas é triste que atribuam palavras à pessoas que já não podem mais se defender. Da mesma forma, eles adoooooram colocar um Hitler do outro lado, por exemplo. Mas a verdade é que Einstein e Darwin NÃO eram religiosos, mas Hitler era. Todas aquelas historinhas que pululam na internet de que Darwin se arrependeu no leito de morte ou que Einstein convenceu-se da existência divina são MENTIRAS, não caia nelas.

É certo que o desaparecimento das religiões constituídas é questão de tempo, e isto já está para ocorrer em muitos países notadamente inteligentes e ricos. (há um link a esse respeito ao fim da postagem). SIM, estou querendo dizer que os melhores países do mundo são os menos religiosos, já lhes mostrei como religião e ignorância são sinônimos quase perfeitos. Por outro lado, a humanidade (ao menos a Europa) já vivenciou um período similar de descrença durante o Renascimento e, contudo, voltou a se crentalizar (também não sei se isso existe).

Talvez o fenômeno religioso seja cíclico. Espero que não seja. Que dessa vez ele suma de uma vez por todas.

Deus criou o homem à sua imagem e este lhe pagou na mesma moeda (Voltaire)

Deuses, todos eles, são criações humanas. Nada mais que isso. E só sobrevive em mentes desprovidas de inteligência, razão pela qual a religião poderá ser extinta em países ricos.