sexta-feira, 15 de julho de 2011

Cães de Raça: Eugenia em pleno Século XXI

Hitler gostava muito de cães, mas o
seu – é claro! – só podia ser um...
pastor ALEMÃO.
Uma das coisas mais detestáveis no nazismo foi o conceito que essa ideologia desenvolveu para raças. Segundo os próprios, havia uma hierarquia que poderia ser cientificamente explicada para as raças humanas, onde (novamente os próprios) encontravam-se no máximo patamar. Conveniente.
Na parte inferior dessa "hierarquia" estavam os Untermenschen (subumanos, degenerados), que eram considerados Lebensunwertes Leben (indignos de viver). Muitos desses foram declarados inimigos do regime alemão e enviados para campos de concentração onde, amontados como lixo, morriam, vítimas do frio, fome, inanição e trabalhos forçados. Ou executados mesmo.
Um dos pensamentos dominantes à época era de que esta raça superior tinha sido enfraquecida por se misturar com aquelas "raças inferiores" da base da pirâmide.
Mas independentemente do que aconteceu ou não
alguns negam com veemência o Holocausto, como o presidente malucão do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ou o ensaista brasileiro Gustavo Barroso o fato é que esse negócio de raça pegou de tal modo que, mesmo condenado como responsável pela maior hecatombe da história da civilização, ainda perdura nos dias de hoje, sendo inclusive cultuado,  incentivado e premiado.

Com os cães.

Você gosta de cachorro? Todos eles? Não pode ver um que logo já faz uma carícia ou dá um abraço?


Tem certeza?


Nota: esta aí de cima eu mesmo tirei da rua, mas infelizmente não deu tempo de fazer mais nada: morreu na noite do mesmo dia. Encontrava-se sob um estado tão avançado de sarna que eu não podia segurá-la, pois sua pele saía nas minhas mãos. Já estava debilitada demais para se tentar qualquer coisa, mas ao menos não morreu com fome, sede ou frio.

AVISO: Esta postagem tem verdades bastante inconvenientes (e imagens ídem), especialmente para alguns donos de animais.
Provavelmente vai ser o artigo mais longo que já escrevi para esse site, porque infelizmente há muito assunto (ruim) para abordar a respeito.

Pra começar, vou soltar logo a bomba: quem gosta de cachorro gosta de CACHORRO não importa qual seja, e não de pastor-alemão, weimaraner, poodle, boxer, pinscher ou qualquer outra das aprox. 650 raças que existem. O mesmo vale para as 250 raças de gatos ou qualquer outro animal – o que inclui os seres humanos. Quem gosta, não compra.

Geneticamente falando todo cão atual, desde o minúsculo yorkshire até o volumoso são bernardo, nada mais é do que um lobo cinzento norte-americano (Canis lupus). Algumas raças também vieram de algumas subespécies do mesmo, como os lobos chinês, indiano e europeu. Ou seja: se você tem um cão em casa, você tem um lobo. Pode ser pequenininho, sem rabinho, fofinho, peludinho, inho, inho, inho... mas em seus genes ele nunca deixou de ser um lobo.

Esqueletos de dogue alemão e chihuahua. Em última instância,
todo cão nada mais é do que um lobo antropicamente modificado.

Embora possam até parecer engraçadinhos – e NÃO o são – estes animais transformados pelo péssimo mal gosto de seus donos têm diversos problemas relacionados a esses caprichos. A palhaçada toda começou em 1873, com a fundação do Kennel Club da Inglaterra. Esta associação é a responsável por, digamos, "definir" como os cachorros devem ser e, desde então, tem sido responsável por deformá-los e condená-los mundo afora. Influenciados por ele, os donos de cães de competição só admitem criar animais que sigam fielmente o que os livros de especificações da raça exigem. Eles matam se livram de todo e qualquer cão que não se encaixa no "padrão pré-estabelecido da raça". Por "não se encaixa" chamamos qualquer manchinha, qualquer coloração que não esteja em conformidade com o que diz o Kennel Club. Embora os animais sejam 100% saudáveis e totalmente perfeitos, não têm valor de mercado a única coisa que importa para esses putos e, com uma cavalar dose de sorte, pode até ser doado (ou vendido por um preço menor) a alguém que não se importa com algo tão banal. Mas o mais provável mesmo é que seja morto assim que nascer, para poupar custos e leite para seus irmãos "perfeitos". Como resultado dessa obsessão doentia (e totalmente improcedente) por suas "normas", temos as seguintes aberrações anatômicas (clique para ampliar):

As próximas duas sequências de imagens mostram fotos das raças originais, no começo do século (no alto), e suas versões atuais (abaixo). O bull-terrier já teve uma cara normal, mas a conhecida (e horrorosa) torção de seu focinho faz com que o cão simplesmente não consiga ver sequer o que está no chão à sua frente; o dachshund (popular "linguicinha") está quase transformado numa cobra, por causa do alongamento do tronco e pescoço e encolhimento excessivo de seus membros; o bearded collie era um cachorro normal no começo do século, mas os "padrões da raça" exigiram que seu pelo crescesse a tal ponto que lhe prejudica a visão e o faz sofrer com o calor em épocas quentes.
O bolzoi sempre foi um cão grande e pernalta, mas um belo dia acharam que, para se adequar aos "padrões", o pobre animal tinha que ter também uma corcunda! Se o cão não nasce com cifose, não é da raça; o scottish terrier já foi um cão mais simples, mas os "padrões" exigiram que tivesse bigodes enormes e topete na cara, que dificultam na hora de se alimentar... sem contar membros tão pequenos que somem sob a pelagem; e o skye terrier tinha patas e olhos. Hoje não tem nenhum dos dois, e o resultado é um cão que mais parece uma lesma.

E infelizmente esses são apenas alguns dos MUITOS casos...
  • boxers sofrem de epilepsia severa;
  • labradores têm problemas oculares e ósseos;
  • springer spaniels têm deficiências enzimáticas;
  • golden retrievers têm alta incidência de câncer;
  • west highland white terriers sofrem de múltiplas alergias;
  • pugs têm o nariz tão achatado que quase não conseguem respirar; 
  • king cavaliers sofrem de siringomielia (dilatações nos ossos do pescoço causadas por deformações nos ossos do crânio);
  • bassets têm orelhas tão grandes que tropeçam nas mesmas ao caminhar;
  • leões da rodésia têm espinha bífida e cisto dermóide.

Alguns casos são particularmente terríveis... o do leão da rodésia por exemplo. É tão absurdo que, se o animal nascer perfeito, ele não é da raça! A crista característica em suas costas nada mais é do que uma espinha bífida, um defeito! Para ser "da raça", ele tem que nascer defeituoso. Se nascer normal, sem espinha bífida, mesmo totalmente saudável vai ser executado. Praticamente todas as raças possuem características que lhes fazem MAL, incomodam, doem, evoluem para problemas físicos e levam à morte precoce. Mas ainda assim os cães continuam a ser "aperfeiçoados". É uma evolução reversa: nesse caso os defeituosos são mantidos, e os perfeitos eliminados. Vai entender!

E por que tudo isso acontece? Porque, para manter os "padrões da raça", os criadores só cruzam animais que sejam parentes próximos entre si. Há casos de filhos com mães, netos com avós, irmãos com irmãs. Todos os cães bearded collie da Grã-Bretanha, por exemplo, descendem de apenas 12 animais. Não que os cães se importem em fazer sexo com parentes, mas as linhagens vão se tornando cada vez mais debilitadas e frágeis, como os exemplos citados acima. Esses cruzamentos consanguíneos arrasam o sistema imunológico desses animais. Até 3/4 dos 7 milhões de cães britânicos são de raça. Assim, enquanto estes filhotes são vendidos às vezes por até R$ 5.000,00 cada, a maioria dos clientes não sabe que está levando pra casa uma bomba-relógio. O custo REAL por trás da saúde frágil deste cachorrinho pode superar em muito o preço original.
Enquanto isso, adotar não custa NADA e não significa de forma alguma que você esteja recebendo um animal inferior em termos de fidelidade, companheirismo e até mesmo de saúde. Aliás, nesse quesito, o bom e velho vira-lata é o verdadeiro campeão. Suas múltiplas descendências lhe garantiram variedade genética e a exclusão de praticamente todas as características negativas.



Veja mais alguns péssimos exemplos abaixo:

Embora se pareça muito, não é Jabba the Hutt, mas o mastim napolitano, raça originalmente italiana. Além de ser esteticamente horrível, o excesso de pele é tamanho que, quando não obstrui completamente a visão do animal (o que acontece na primeira foto), causa-lhe enorme desconforto nos olhos, pois as pálpebras dobradas lhe roçam a superfície ocular. Também acarreta dificuldades para respirar e comer pois, quando se abaixa, toda aquela pele lhe cai na frente da boca. E para quê?
Repare na mãozinha da guria. E do cara também. Pastores-alemães são forçados a manter essa posição por toda a vida, desde a infância, até não conseguirem mais ficar com os membros posteriores eretos. Isso se chama ataxia e já lhes valeu o apelido de "cães-sapos" devido à deformidade. Essa condição exigida pelos "padrões" pode levar à mielopatia degenerativa (GSDM), que leva à paralisia. É progressiva e irreversível. Detalhe importante: os pastores alemães policiais NÃO SÃO assim. Caso contrário, simplesmente não poderiam correr.

Um pouco de anatomia. Comparação entre os crânios de: 1) lobo original, 2) dogue alemão (que mantém um crânio relativamente regular), 3) chihuahua, 4) pug, 5) bull terrier e 6) buldogue. Apesar de parecerem todos de espécies diferentes, não são.

O vídeo a seguir é de um documentário intitulado Segredos do Pedigree (Pedigree Dogs Exposed, BBC, 2008), que mostra toda a terrível verdade por trás dos animais de raça. Sugiro que o assistam por completo, após terminar de ler esse artigo.


Sério, vejam esse documentário e no final, fiquem com vontade de espancar todos aqueles velhos e velhas malditas que aparecem falando merda pensando que ainda vivem na era vitoriana!
Se maus-tratos são considerados crime e incesto entre humanos também, isto (que concentra ambos) não deveria também ser enquadrado como tal pela lei? Se não, por que nos horrorizamos quando casos similares acontecem com crianças?
Esses cruzamentos, apesar de pregarem o aperfeiçoamento, geralmente tornam suas vítimas muito mais sensíveis e fracas do que o único cão "verdadeiro": o já citado vira-latas. Esses animais vivem mais, adoecem menos e precisam de menos cuidados. A verdade é que eles sim são os cães perfeitos.

Ter um animal de raça, emperequetá-lo com penduricalhos, entupí-lo de cosméticos e mostrá-lo pra todo mundo é sinônimo de status nessa socidade idiota. O fato é que, por conta dessa preferência, mais de 4 milhões (MILHÕES) de cães abandonados são executados todos os anos nos abrigos dos EUA.

Como se não bastassem os problemas inerentes às raças por si só, nós ainda inventamos outras maneiras de sacanear os animais para satisfazer nossos sensos estéticos pessoais. Na China, a moda agora são os "cães temáticos", customizados (como odeio essa palavra!) para se parecerem com os animais que eles mesmos caçaram até a quase extinção ou com qualquer outro que se tenha a ideia imbecil de copiar.

O mal gosto humano depende do tamanho de sua idiotice. Essas aberrações vêm da China.

Há também a "tendência" de se tingir os pêlos dos animais com cores berrantes, para deixá-los parecidos com palhaços, monstros, pinturas... a coisa pode descambar para a completa e insana bizarrice, dê uma olhada.

Parece que a bizarrice chinesa é do tamanho de sua população...
Pessoas que fazem isso não querem um cão; querem um palhaço. E se for para ser desta forma, comprem um urso de pelúcia, oras! Não sujam, não têm necessidades, não têm fome, não destroem nada, não espalham pêlos, não fazem barulho... vai fundo! Inclusive indico duas boas marcas: Maritel e Leonela. MAS NÃO TENHA UM ANIMAL.

Onicectomia: para algumas pessoas, quando se tem um gato o
mais importante é a mobília da casa, e não o animal.
Outra imbecilidade que inventamos para satisfazer nossa necessidade visual ou apenas para aparecer para os outros mesmo são as chamadas cirurgias estéticas. Operações feitas para impedir o animal de ser justamente... um animal! Conchectomia (corte de orelhas), caudectomia (corte da cauda),  cordectomia (cordas vocais) e onicectomia (unhas) são práticas tão absurdas e grotescas que legalmente já são proibidas no Brasil (Resolução 877 do CFMV, publicada no Diário Oficial da União em 15 / 02 / 2008).  A onicectomia é geralmente feita em gatos para que não arranhem a mobília e é particularmente cruel porque extrai não apenas a garra mas toda a ponta dos dedos, uma vez que a unha está inserida nela. Afiá-las é um comportamento natural e instintivo dos felinos. Se você não quer correr o risco de ter sua mobília arranhada, a única saída é: NÃO TENHA GATO!


Você não achava que seu cãozinho já tinha nascido sem rabo, né?

Transformá-los no que não são para nos satisfazer é errado e incoerente, e não é apenas pela dor momentânea ou mal-estar pós-cirúrgico passageiro em si aliás, se essa é sua justificativa, experimente amputar seu próprio braço (o desconforto será apenas inicial também...) mas simplesmente porque cães não têm necessidade de estética ou senso de auto-estima, esses são conceitos humanos. Um cão não vai se sentir mais bonito nem vai ficar feliz por ter suas orelhas cortadas.

E se você ainda não se convenceu do quão prejudicial e desumano é comprar um cão desses, talvez se solidarize com aqueles que não são comprados, as chamadas "matrizes"...

Cadela matriz da raça boxer abandonada em Itaipava (RJ). Os
múltiplos tumores revelam um corpo exaurido e a ponto de falir.
Você já deve ter visto (e até mesmo vivenciado) a seguinte situação: alguém sai radiante de felicidade de uma petshop (após ter pago várias centenas de reais) com seu novo amiguinho peludo, que espera-se cresça saudável, bonito,  perfeito, SEM DAR TRABALHO E DESPESA.
A procedência do bichinho pouco importa mas, se num raríssimo átimo de coerência for perguntado, o dono da loja dirá, confiante, que os filhotes são de criadores "licenciados" ou então "profissionais". Pois bem...

Lembra aquele filhotinho fofo que você viu ou comprou na petshop? Ele veio dessas gaiolas. A mãe dele ainda está lá.

Essas fábricas são dirigidas por "criadores" cujo único propósito é fazer com que seus cães se reproduzam sem parar por toda a vida, quase sempre negligenciando suas mais básicas necessidades. Amontoados em minúsculas gaiolas das quais nunca saem (mas nunca mesmo), esquálidos e imundos, são obrigados a tomar água suja e viver sobre um chão repleto de suas próprias fezes.

Chão de uma fazenda de filhotes. É em lugares como esse que
os cães de raça nascem. Você nem imaginava, né...?
As fêmeas ganham a denominação de "matrizes" e, se ainda estão em seu auge e podem continuar gerando ninhadas, são poupadas para manter-se reproduzindo repetidamente até a sua fertilidade diminuir ou seu corpo se render ao colapso, quando então uma de suas filhas é colocada em seu lugar.
Você pode imaginar como fica o corpo de uma cadela que tem 120 filhotes ao longo da vida? E o tempo entre o término de uma gestação e início de outra? Os filhotes são desmamados na 6ª semana (duas semanas antes do ideal) para que a cadela engravide de novo em sequência.

Cadelas matrizes da raça maltês. Não há organismo que aguente
gerar mais de 100 filhotes ao longo da vida.

Quando finalmente se exaurem, seu destino mais provável pode ser o aterro pois, uma vez que não consegue mais "produzir" (e dar dinheiro para seu dono) simplesmente não é mais necessária. Talvez, nesta situação, a morte possa ser de fato a melhor saída. Viver nas condições de uma fábrica de filhote é insuportável. Outros criadores, para demonstrar "humanidade" põem as fêmeas exaustas para adoção. Tomar no cu!

Antes de ir para aquela pet-shop limpa e colorida que você conhece, é aqui que os filhotes ficam esperando, às vezes por vários dias.

Se sensibilizou? Quer um animal? ADOTE! Adotar um cão ao invés de comprá-lo é a melhor maneira de dar um golpe nesses fabricantes de filhotes. Às vezes você nem precisa ir ao canil municipal ou CCZ de sua cidade, basta andar pelas ruas, onde dezenas de cães perambulam abandonados. Você não estará apenas salvando uma vida, você também não estará colocando dinheiro no bolso dos criadores.
Se tiver um amigo ou familiar que esteja pensando em comprar um filhote, faça-os saber que existem cães perfeitamente saudáveis à espera em abrigos e/ou pelas ruas. Tenha em mente que, comprando um cão, você não o estará “resgatando” da gaiolinha da loja. Suas intenções podem ser boas, mas seu dinheiro vai incentivar o criador a produzir mais e mais filhotes para a venda.

Sabendo de tudo isso que acabou de ler você (se for o caso) não pode, de forma alguma, dizer que gosta de cães. Pode afirmar que gosta do SEU CÃO, sim e eu até acredito nisso mas de nenhum outro mais. Nem da própria mãe do seu filhote.



Links:


    Já tem até o "cachorro Homem-Aranha"...

    sexta-feira, 8 de julho de 2011

    Itajaí é Evangélica ???

    Já faz alguns anos que atravesso a Avenida Nilo Simas, no bairro Cidade Nova aqui em Itajaí (sentido Adolpho Konder / Contorno Sul), para ir de minha casa até o centro da cidade, e sempre reparei que havia uma grande concentração de templos religiosos naquela via, "construídos" entre terrenos baldios e paupérrimos casebres de madeira.
    O bairro Cidade Nova é um dos mais carentes da cidade, fruto de ocupação irregular e desordenada, e é um constante sofredor de mazelas quando a natureza resolve reclamar seu lugar de direito. Às margens do rio Itajaí-Mirim, se torna vítima fácil quando este recebe grande fluxo de água pluvial (coisa mais do que comum por aqui).

    Pois dia desses muni-me de papel, caneta e câmera fotográfica e fui conferir exatamente quantas eram – e a quais correntes religiosas essas igrejinhas pertenciam. Zerei o hodômetro do carro e iniciei a jornada.

    Roteiro completo da avenida Nilo Simas, no bairro Cidade Nova
    (Promorar II), em Itajaí. Clique para ampliar e ver a localização
    da escola e das igrejas. (clique também porque deu um trabalhão
    do cacete pra fazer isso!)

    Até aproximadamente 0,6km não há nada. NADA mesmo, só mato de ambos os lados, com alguns cavalos aqui e acolá. Após isso, à esquerda, eis que vejo... uma escola! Será que minha teoria cairia por terra? A primeira coisa que vejo em minha pesquisa sobre igrejas... é uma escola! Então ainda há esperança! Ótimo!

    Ótimo? Bem...


    A escola em questão é o CAIC C.E. Prof. Cacildo Romagnani, colégio público (dá pra perceber, né?) administrado pelo município. A foto mostra sua entrada (não sei se é a principal) com bastante lixo, entulho e mato.
    Mas tá bom, vai... vamos dar um desconto. Mesmo sendo desse naipe, ainda é uma escola, educadora de crianças e formadora de cidadãos críticos. Melhor que nada. Além do mais, tem também a vantagem de não ser escola religiosa. Isto é BASTANTE importante!

    Dirigindo mais 180m, há um cruzamento com a rua Emanoel José Rebello. Logo depois, à esquerda temos a Casa de Oração Cristo na Terra, de orientação evangélica e, à direita, a Capela São Lourenço, a única cristã católica encontrada.



    Em quase todas elas, dá pra ver que cuidado com a aparência não é uma grande preocupação. "Deus não quer os bonitos", diriam alguns mais exaltados, Bom, quando completo 0,8km do trajeto da via, vejo à esquerda a Comunidade Evangélica Shalom.


    Além do desapego com a imagem percebe-se também, vendo essas construções precárias com alvenaria avariada e MUITA madeira, que seus administradores não têm preocupação alguma com segurança. Olhe as fotos... fico me perguntando se há aval do corpo de bombeiros da cidade para seu funcionamento. Uma fagulhinha nessa madeira toda e tudo se incendeia!
    Mais 300m e temos, à direita na rua Euclydes Adão Peixer, o Templo Evangélico Deus é Fiel. Interessante é que, imediatamente atrás dele existe ainda outro templo, a Igreja Pentecostal Templo da Fé, que se resume ao que parece ser nada mais que uma garagem com porta pantográfica. Duas igrejas (creio eu que da mesma orientação religiosa) grudadas... como será que os fiéis escolhem? Pela aparência? Fazendo uni-duni-tê?




    Mais 130m e encontro a Igreja Missionária da Vitória, à primeira vista, uma casa residencial de estrutura bastante simples transformada em local de reunião.


    Completando 1,4km há a Igreja Internacional da Graça de Deus, na pequena rua Manoel Cardoso, transversal à principal.


    Prosseguindo por mais 250m há, à direita, a Igreja Adventista do Sétimo Dia, na esquina com a  rua Juarez José Mendes. De todas, é a única protestante e "profissional", o que se percebe pela própria estrutura: de alvenaria, pintada e limpa. A única realmente bonita.


    Algo que não pude deixar de perceber é que nenhuma dessas igrejas está em uma construção projetada especificamente para este fim. Metade delas são obviamente salas comerciais alugadas, outras tantas parecem ser casas e, de certeza, só a Adventista mostrada acima foi, de fato, planejada desde o começo para ser uma igreja. Ou seja, não precisa ser bonito, espaçoso e nem mesmo seguro. Qualquer lugar serve para abrir uma igrejinha.

    Nem dá tempo de registrar direito, porque, menos de 90m depois dá pra ver, à esquerda, a Igreja Evangélica Pentecostal Ministro da Nova Aliança. Outra casinha aos pandarecos transformada em local de culto.



    Sem sair do lugar e olhando para a direita, próxima do ponto onde a rua João Ascendino Lamin se encontra com nossa avenida Nilo Simas, encontramos a Assembleia de Deus dos Primogênitos. Deve ser uma igreja que só aceita os filhos mais velhos – provavelmente por ser os que já trabalham e podem "contribuir".


    Ou talvez uma igreja de adoradores dos filhos mais velhos dos egípcios que Deus aniquilou no Êxodo, vai saber... seja como for, sua aparência é horrorosa, sequer há reboco nas paredes e, à sua frente, há um "gramado", que mais parece os Pântanos Mortos (fãs de O Senhor dos Anéis saberão a que me refiro), perfeitos para uma legião de mosquitas felizes da vida depositar todos os seus ovinhos.

    A coisa só acaba porque, logo adiante, vem o rio! Essa parte da avenida é nova, foi inaugurada em dezembro de 2005 para ligar os bairros São Vicente e Carvalho através da Cidade Nova. Mas eu não duvido nada que logo logo alguém inventa uma igreja flutuante pra colocar ali. Tô até imaginando um nome: Igreja de Adoração ao Milagre de Andar sobre a Água...

    E não pense que esse nome imbecil seria exceção à regra não – muito pelo contrário! A falta de inteligência dos que fundam igrejas nesse país é tamanha que só mesmo tendo muita imaginação (e cara de pau) pra criar as aberrações que vemos por aí. Confira a reprodução de uma reportagem da Folha à respeito (clique AQUI se for assinante UOL / Folha ou AQUI para uma cópia da íntegra). Tem Igrejas Marilyn Monroe, Automotiva, Florzinha de Jesus, Cuspe de Cristo, Cobrinha de Moisés... até Igreja Evangélica Muçulmana!

    Viu o link acima? Ficou empolgado e quer abrir sua própria igrejinha para pegar dinheiro dos estúpidos adorar a Deus? Não perca tempo, clique AQUI! É uma empresa de consultoria lá de São Paulo, especializada em abrir e regularizar igrejas.

    A coisa ficou profissional, rapaz! Tá pensando o quê... Deus acompanha o progresso como todo mundo, oras! Eu mesmo estou pensando em abrir uma, seria a Igreja Darwiniana da Verdade Evolutiva... não ficou legal!?

    Enfim, saldo da brincadeirinha: num dos bairros mais pobres e carentes de Itajaí, temos UMA escola (pública, caindo aos pedações) e nada menos que DEZ igrejas. Simplesmente não há como um país progredir desse jeito, com educação lixo e obscurantismo religioso para todo lado que se vire a cara.
    E de fato NÃO ESTÁ progredindo. Basta ver a quantidade e principalmente, a qualidade das novas leis que estão sendo formuladas (e inacreditavelmente aprovadas) por deputados (a graaaande maioria) evangélicos. Listei algumas aqui embaixo – bem como também algumas vantagens que parece que só eles têm.


    Mês passado eles conseguiram reunir a maior concentração de descerebrados do país na tal Marcha de Jesus, onde puderam destilar todo seu veneno contra ateus, homossexuais, outras religiões e pessoas inteligentes além de deixarem uma imundície nas ruas. Sua intenção foi bastante clara: mostrar, para os mandatários da nação, quantos votos eles controlam e seu poder de mobilização. O Brasil está aos poucos se tornando uma teocracia cristã pentecostalista (ou neopentecostalista, ou deuteropentecostalista, ou o qualquermerdapentecostalista) a olhos vistos, os evangélicos não fazem nenhuma questão de esconder. Já estão infiltrados nas mais diversas instâncias de comando e nas forças de segurança do país (polícias, prefeituras, assembleias legislativas, câmaras, senado e congresso) mudando a legislação com aquelas propostas ridículas que listei acima para permitir que as igrejas evangélicas se alastrem como ratos pelo território nacional. Lutam contra, por exemplo, a liberdade em todas as suas frentes  (religiosa, sexual, cultural, opinativa) e a desesperadora necessidade do aborto da qual o Brasil carece. Para nossa cultura popular será um desastre. E ninguém parece se importar muito.

    Mas por mais paradoxal que possa parecer, vejo com bons olhos essa expansão do cristianismo no Brasil, ainda mais sob as bandeiras católica e evangélica. Sufocando outras religiões, anulando o pensamento livre e controlando mentes desprivilegiadas (que infelizmente são dezenas de milhões nesse país) logo vão provocar alguma coisa tão grande e absurda (vide o nacional-socialismo alemão) que algo terá de ser feito. É aguardar pra ver.

    quarta-feira, 6 de julho de 2011

    O Desastre do Mar de Aral

    Não, os barcos não são de brinquedo. Isto tudo já foi água além de onde a vista alcança.

    O Mar de Aral já foi o 4º maior lago do planeta, com área de 68.000km² (quase do tamanho da Irlanda) e 1.100 km³ de volume de água. Ele e seu companheiro mais próximo e maior, o Mar Cáspio, são "restos" geológicos de um grande mar interior que dominava a paisagem russa milhões de anos antes e que retraiu-se, deixando-os como lembrança de sua passagem. Seu nome significa mar das ilhas e está (ou estava, dependendo do contexto) situado no que hoje é a divisa do Uzbequistão com o Cazaquistão, mas a triste história de seu fim tem origem quando estes dois países ainda eram parte da grande  URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

    Tudo começou quando os soviéticos declararam como kolkhoses (zonas agrícolas coletivas) as estepes da Ásia central. Como parte do plano, tiveram a "brilhante" ideia de desviar Amu Darya e Sir Darya, os 02 rios que alimentavam o lago, para irrigar as plantações de algodão e cereais diversos.
    Já repararam nisso? O homem tem que ver "motivos econômicos" para um lugar ou ser vivo. Não importa que eles simplesmente sejam importantes apenas por existir ou pelo valor de sua própria vida,  precisam nos dar lucro. Se não, não têm serventia. Isto inclusive me foi ensinado na própria universidade: ao se propôr uma área ambiental protegida, se faz necessário mostrar sua "importância econômica", a fim de que haja real interesse em se preservá-la.


    Pilha de algodão no Uzbequistão. O progresso inicial "escondeu"
    a maior catástrofe ambiental da história da humanidade.

    Mas voltemos ao Mar de Aral. Verdade seja dita, a cultura algodoeira prosperou. Essa parte do plano deu certo, e o Uzbequistão se tornou o 3º maior produtor mundial da fibra. O desaparecimento do lago não foi nenhuma surpresa para os soviéticos, e inclusive esperava-se que acontecesse muito antes. No início de 1964, Aleksandr Asarin, do Hydroproject Institute, afirmara: "era parte do plano (...) aprovado pelo Conselho de Ministros e pelo Politburo. Ninguém em um nível inferior se atreveria a dizer uma palavra os contradizendo, mesmo que significasse o destino do Mar de Aral". Assim, eles convenientemente "não se deram conta" (aham!) de que o desvio dos rios, a vasão d'água e a construção dos canais foram extremamente mal calculados. O maior canal, chamado Qaraqum, perdeu entre 30% e 75% de toda a água que desviou. Mesmo hoje, apenas 12% do comprimento total do canal de irrigação do Uzbequistão é impermeabilizado. A maior parte da água evaporava ou vazava antes de chegar às plantações, mas a prioridade dos soviéticos sempre foi manter o comércio de algodão, arroz e outros cereais em detrimento de qualquer outra coisa.

    Na década de 60 o nível do lago baixava, em média, 20cm anuais; nos anos 70, aumentou para 50cm e, nos anos 80, absurdos 90cm! Em 1987 o lago se dividiu em dois: Aral Norte e Aral Sul.

    Progresso da desertificação do lago.

    Em 1991, o Uzbequistão conquistou sua independência, assim como várias outras ex-repúblicas após o colapso da União Soviética. Mas manteve-se nos mesmos erros de seus predecessores: os agricultores não se valeram da rotação de culturas e empobreceram o solo de tal forma que tiveram de entupí-lo com quantidades assombrosas de pesticidas e fertilizantes. O solo ao redor é insuportavelmente poluído e as pessoas que vivem na área sofrem com a falta de água potável e problemas de saúde, incluindo as altas taxas de câncer, doenças pulmonares (incluindo a tuberculose), transtornos digestivos, anemia e infecções, além de problemas nos rins, fígado e olhos. Os problemas de saúde gerados pela poluição do lugar estão associados com a alta taxa de mortalidade (75 em cada 1.000 recém-nascidos e 12 em cada 1.000 mulheres durante o parto). Culturas agrícolas na região são destruídas pelo sal sobre a terra.

    O lago secava a olhos vistos e no verão de 2003 a parte sul foi dividida em bacias ocidental e oriental. Em 2004, a salinidade original havia quintuplicado, aniquilando quase toda a flora e fauna naturais que ainda resistiam. Em 2007 90% de sua área original já estava perdida, e o Aral Sul começou a ceder lugar para o Aralkum, um deserto de sal que está se formando no que era antes o leito do lago. Quanto à água que ainda resta ali, a salinidade aumentou para níveis superiores a inacreditáveis 100g / litro só para efeito de comparação, a concentração de sal na água do mar é de 35g / litro.

    Bóia de sinalização. O Mar de Aral já teve quase 70 metros
    de profundidade. Hoje, sua parte mais profunda mal chega aos 30.

    O ecossistema do Mar de Aral e os deltas de rios que o alimentavam foram destruídos, e o recuo das águas deixou enormes planícies estéreis cobertas de sal envolto em produtos químicos tóxicos resultado de testes bélicos (havia um laboratório secreto de armas biológicas em Vozrozhdeniya, uma de suas ilhas), dejetos industriais, pesticidas e escoamento de fertilizantes que tornam impensável o consumo da pouca água que ainda resta nas adjacências.  Até mesmo o ar que sopra na região é venenoso, pois as vastas planícies de sal exposto, aliadas ao vento e à falta da água que as continham,  produzem nuvens de poeira tóxica que se espalham pela região.

    A outrora rica natureza às margens do lago foi devastada – das 173 espécies que habitavam suas margens apenas 38 conseguiram resistir. Apesar de sua fauna de peixes sempre ter sido muito pobre em variedade, com pouco mais de 20 espécies, o estoque era tão abundante que a indústria pesqueira do Mar de Aral era responsável por 1/6 de todo a produção da URSS e empregava 40.000 pessoas. Com o secamento do lago a atividade acabou, gerando enormes dificuldades para a população local. A cidade de Mo'ynok, ao sul no Uzbequistão, possuía um movimentado porto pesqueiro que agora é um gigantesco cemitério de navios enferrujados a muitos quilômetros da atual costa do lago.

    Todos esses peixes um dia existiram no Mar de Aral. Hoje, apenas o linguado Platichthys flesus (que não é nativo) ainda resiste.

    Como se não bastasse o desaparecimento da água, os peixes do local sofreram com a invasão de espécies introduzidas. Este problema (mais um...) iniciou-se em 1957 com introduções acidentais e "planejadas" no Mar de Aral. Mais de 20 espécies de peixes foram introduzidas e a maioria deles se estabeleceu muito bem. Atualmente, todos (à exceção do linguado Plathichtys flesus) foram eliminados. A 2ª crise dos peixes nativos começou em 1971, quando a salinidade da água aumentou acima de 14g / litro e mais uma leva de espécies desapareceu. A terceira ocorreu em 1986, quando a salinidade excedeu 25​​g / litro, e dessa vez todas as espécies de água salobra foram extintas. Em 1989, quando a seca dividiu o lago em 02 partes, apenas 07 espécies de peixes (nenhuma nativa), 10 de zooplâncton e 11 de organismos bênticos permaneceram. TODAS as espécies de peixes originais do lago foram exterminadas. Como dito anteriormente, hoje o único que consegue viver no lago é aquele linguado. Introduzido. E ainda assim cada vez mais raro.

    Mas como dito antes, a economia da região entrou em colapso com o desaparecimento da água, que também alterou o clima local: a temperatura média subiu 1,5ºC, provocando verões ainda mais quentes e secos – e invernos mais frios e demorados. E, como num círculo vicioso, a temperatura elevada faz as plantações do entorno necessitarem de mais água, que vai sair de onde? Do Mar de Aral...
    Mas não, não para por aí! As plantações alteraram seus ciclos com a mudança climática local, diminuindo a própria produtividade. Ou seja: tira-se ainda mais água para produzir-se cada vez menos.

    Outra espécie que foi extinta na região foi o rato
    almiscarado (Ondatra zibethicus), que vivia nos
    deltas dos rios que desaguavam no lago e fôra
    caçado na ordem de 0,5 milhão por ano para
    fazer casacos de pele.


    Como alento, o Aral Norte tem recebido alguma atenção e cuidado. Em 1992 foi fundada a Comissão Interestadual de Coordenação da Água da Ásia Central (ICWC) formada por 05 países da Ásia Central próxima ao lago na esperança de resolver os problemas ambientais e sócio-econômicos na região do Mar de Aral.
    Como resultado, em 1993 foi criado o IFAS (Fundo Internacional para o Mar de Aral) para arrecadar fundos para os projetos na bacia do lago. O programa até apresenta algum resultado positivo, mas esbarra na burocracia e na demora de sua aplicação, retardando assim seus progressos.
    Em 1994 os governos do Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão, Tajiquistão e Quirguistão assinaram um acordo para garantir que 1% dos seus orçamentos fossem destinados a projetos de recuperação do Mar de Aral.
    Em 2000 a UNESCO apresentou um trabalho chamado Visões Relacionadas à Água da Bacia do Mar de Aral para o Ano de 2025 no II Fórum Mundial da Água, em Haia, Holanda. Mas o documento foi criticado por estabelecer metas por demais espetaculares, e também por não dar atenção suficiente aos interesses da área outrora às margens do lago.
    Em 2006 os projetos de restauração do Banco Mundial, especialmente no Aral do Norte, deram algum resultado: a construção da barragem de Kokaral separando as duas partes do lago fez com que o nível do Aral Norte subisse 12m em 05 anos, ao mesmo tempo em que a salinidade diminuía. Os peixes retornaram, e seu estoque chegou a um nível em que a pesca comercial pode voltar a ser pensada.

    Guarde os logotipos bonitinhos e seus nomes: Uzbekneftegaz, Korean National Oil Corporation, China National Petroleum Corporation, LUKoil Overseas e Petroliam Nasional Berhad. São estas companhias que vão terminar de destruir o Mar de Aral.


    Contudo o Aral Sul, que fica na parte mais pobre do Uzbequistão, foi abandonado à própria sorte. Existem projetos que poderiam ajudar, mas o governo do Uzbequistão não mostra nenhum interesse em abandonar o rio Amu Darya como fonte de irrigação do algodão, e faz ainda pior: Ergash Shaismatov, o Vice-Primeiro-Ministro uzbeque, anunciou em 2006 que o governo e um consórcio internacional reunindo a estatal Uzbekneftegaz e também empresas de Rússia, Malásia, Coréia do Sul e China assinaram um tratado de partilha para construir e explorar campos de petróleo e gás no leito do Aral Sul. Em 2010 já eram extraídos 500.000m³ de gás diretamente do leito seco do lago.

    Vice-Primeiro-Ministro uzbeque, Ergash Shaismatov, ao lado
    do Vice-
    Primeiro-Ministro da China, Li Keqiang, em 2009: "O
    Mar de Aral (...) promete em termos de petróleo e gás. Existe
    um risco, mas acreditamos no sucesso deste projeto único".

    Ou seja: de fato não há interesse na recuperação do Mar de Aral. A merda foi tão grande que se tornou  praticamente irreversível. O que aconteceu ali é considerado o maior desastre ambiental de todos os tempos, a primeira grande modificação humana possível de ser plenamente vista do espaço.

    E não pense o(a) leitor(a) que este foi um caso isolado! No Iraque a drenagem dos pântanos da Mesopotâmia também resultou numa catástrofe ambiental; mesma coisa com os lagos da Bacia de Sistan, entre Irã e Afeganistão; na África, o Lago Chade também já está quase seco por causa de projetos de irrigação na Nigéria e no Chade; o Mar Morto, em Israel, está secando em virtude do desvio da água do rio Jordão ao sul; mesma coisa com os lagos Tulare e Mar Salton, nos EUA... No Brasil, temos a ameaça de Belo Monte que não é um projeto de drenagem mas também vai afetar horrorosamente o ciclo de escoamento da água do rio Xingu, no Mato Grosso.


    Quero terminar deixando estas palavras, para pensar:

    O homem já revolveu mais terra e rocha do que qualquer outro evento geológico em toda a história da Terra.Todos os anos, uma área de floresta quase do tamanho da Escócia é varrida do planeta. Ou seja, além de estarmos sufocando o mundo com dióxido de carbono, estamos lhe minando a capacidade de resolver o problema.
    Contudo, a Terra é muito resistente. Uma floresta pode ser totalmente devastada, mas se recupera em alguns milhares de anos.
    O mundo, a longo prazo, vai ficar bem... a humanidade, não.

    Não é o planeta que está em perigo. Somos nós.



    Para saber mais: