segunda-feira, 23 de maio de 2011

Você morreu... fodeu!



Ok, vocês venceram. Hoje não vou falar de religião.

Não por falta de assunto, mas porque não é apenas neste campo que existem coisas erradas e prejudiciais acontecendo que precisam ser resolvidas. Maaaaaaaaaaaaassss... o que vou escrever hoje também tem a ver com ela.

Não é perseguição! Não tenho culpa se ela estraga qualquer coisa na qual se mete!

Mas o assunto não chega exatamente a ser inédito. Já escrevi em outras postagens o quanto a espécie humana é desprezível e insignificante. Ela se transformou numa criatura tão ruim que nem mesmo MORTA deixa de ser um problema. O homem é o único animal que dispende um tratamento especial a seus mortos – já vem fazendo isso desde a época dos neandertais – e isso gera um problema imenso PARA OS VIVOS.

Por quê? No caso do enterro, que é o principal destino dos mortos humanos mundo afora, por três fatores, a saber: acúmulo de corpos, proximidade de recursos hídricos e excesso de químicos e outros materiais que também são sepultados.

Outros animais morrem de forma isolada, um aqui outro acolá. Suas carcaças ficam expostas ao tempo, aos predadores e aos agentes decompositores que se encarregam de neutralizá-la, reaproveitando seus nutrientes e reabsorvendo-a de volta ao solo. O ser humano enterra os seus, e isto por si só não seria um problema se não o fizéssemos em escala industrial, depositando centenas, milhares de carcaças em espaços pequenos, os cemitérios. E ainda os sepultamos profundamente, longe da superfície... e pertinho dos lençóis d’água subterrâneos.

Junte-se a isso o próprio processo natural de decomposição. Todo corpo em putrefação libera gases tóxicos como metano, amoníaco e sulfeto de hidrogênio, extremamente venenosos, e produz um líquido conhecido como necrochorume, que é um composto de líquidos corporais e microorganismos – muitos deles patógenos e responsáveis por velhas conhecidas como tétano, hepatite, disenteria, escarlatina, tuberculose e febre tifóide (puta que pariu!). Cada cadáver libera, em média 200ml dessa gosma todos os dias por pelo menos 6 meses. Noves fora, são quase 40 litros! Agora imagine um cemitério com 1000 corpos... a meleca se torna gigantesca – e vai tuuuuudo pro lençol d’água, que abastece o reservatório que envia água para a caixa que a manda para as torneiras e o chuveiro... da sua casa. Se você abastecer sua residência com poço então... virge!

Por último, como se já não bastasse isso tudo, ainda temos a tosca tradição de enterrar nossos mortos embalsamados e lacrados em caixões. Existem dados assustadores sobre o que enterrar tanta gente dessa maneira custa ao meio ambiente. Segundo Joe Sehee, diretor executivo da Green Burial Council, todos os anos nos EUA os caixões usados em funerais lançam no solo mais metal do que tudo o que foi usado para erguer a ponte Golden Gate, em San Francisco, e os gavetões das sepulturas têm concreto suficiente para construir uma avenida de duas pistas ligando Nova York a Detroit – quase 1000km (os dados foram coletados pela Association of American Cemetery Superintendents). Em 2009, os americanos injetaram no solo inacreditáveis 3,1 milhões de litros de formol e outros fluídos para embalsamamento, além de 104 mil toneladas de aço e 2.700 toneladas de bronze. Isso sem contar os quase 850 mil metros cúbicos de madeira (de acordo com Casket and Funeral Association of America, Cremation Association of North America e The Rainforest Action  Network) o que não seria exatamente um problema, se tal madeira não fosse invernizada e pintada e tratada com pesticidas para resistir à ação de cupins, formigas e traças (pra quê!?). Olha que merda! Quer mesmo ser enterrado e se tornar responsável por poluir a água e contaminar o solo com um sem-número de substâncias nocivas?

Cova coletiva no campo de concentração de Bergen-Belsen, Alemanha, em
maio de 1945. O problema maior não é enterrar do corpo, mas sim acumular
grande número de cadáveres no mesmo lugar.

Beleza, então nada mais de enterrar, vamos cremar todo mundo! É rápido, não ocupa espaço e não contamina água nem solo. Parece perfeito, mas na verdade é uma péssima ideia – outra, aliás. Cada cremação libera em média nada menos que 150kg a 250kg de CO2 (mais conhecido como dióxido de carbono, um dos principais gases responsáveis pelo efeito estufa) e até mercúrio, se você tiver obturações e/ou marcapassos no corpo. Mercúrio é um metal pesado e assombrosamente venenoso – os japoneses de Minamata que o digam. Quer mesmo ser cremado e se tornar responsável por poluir nossa atmosfera e esquentar ainda mais o planeta?

Cremação hindu às margens do rio Ganges, na Índia. Tal hábito
ajudou a colocar aquele rio entre os mais imundos do planeta.

Mas o que isso tem a ver com religião, seu ateu fundamentalista!? Com certeza alguém que ler esse texto vai pensar isso – e vai postar a mesma coisa nos comentários (como anônimo, claro). Já disse que não sou fundamentalista e outra: enterrar mortos é um hábito religioso SIM. Tá, os neandertais já o faziam e não tinham religião, mas o problema é que a religiosidade maximizou tal tradição. Na África por exemplo, algumas tribos confiavam o destino de seus corpos à animais carnívoros como as hienas, mas a colonização europeia condenou o hábito ao ostracismo. E outra: para os cristãos a cremação não é uma opção, uma vez que o corpo precisa ser preservado para o Dia do Juízo Final, quando supostamente o Jesus vai voltar e ressucitar os mortos para a vida eterna... ai ai...


Em alguns países a superlotação de cemitérios se transformou num problema tão grave que o governo já estuda simplesmente dissolver os mortos e jogá-los no esgoto! Se duvida pode conferir aqui. Aqui no Brasil a gente não fica muito atrás não, dada nossa tecnologia rudimentar e total falta de interesse, tanto político quanto público, no assunto. Ao final da postagem há uma lista com várias reportagens a respeito do problema em vários pontos do país.

Depois de tanta notícia ruim, tinha que haver esperança né? 

E por mais incrível que pareça... há! A onda agora são os “enterros verdes”.

Um "exemplo" é o oferecido pela Neptune Society, que construiu um cemitério submarino nas proximidades de Miami (EUA). Os corpos são cremados e as cinzas misturadas a um cimento especial que é depositado no fundo do mar, criando um substrato perfeito para que corais , cracas e outros invertebrados se fixem e cresçam. Eu particularmente não gostei, pois eles ainda precisam cremar as carcaças antes, fora o fato de que alteram o ambiente marinho pra fazer isso, alegando que será ótimo para que a vida marinha se desenvolva ao redor das estruturas.

Leões guardam os portões do cemitério submarino da Neptune Society: mal
gosto e falsa ideia de enterro ecologicamente sustentável.

Outro processo, mais interessante, foi desenvolvido pela Green Burial Council. Consiste em não aplicar agentes conservantes no cadáver e depositá-lo em um caixão feito de galhos de madeira fina, facilmente absorvível, enterrando-o diretamente na terra, sem gavetões de concreto. É melhor do que o método tradicional, mas elimina apenas o problema dos químicos e dos materiais sólidos. Continua ocupando espaço e arriscando a água subterrânea. Há também as opções de caixão de vime, papel reciclado e até sem caixão nenhum! É, o corpo é sepultado diretamente no solo.

Existe também o resomation. Tal método consiste em mergulhar o corpo numa solução de hidróxido de potássio (um corrosivo infernal,  popularmente conhecido como potassa cáustica), adicionar pressão e aquecê-lo a 180ºC. Tudo é dissolvido em três horas, restando apenas um líquido repleto de compostos orgânicos mas SEM agentes patógenos (destruídos pela alta temperatura), excelente para adubagem, e os ossos mais resistentes. O problema: ainda utiliza alguma energia e emite carbono. Bem menos, mas emite.

Cadáver após o processo de resomation: Apenas ossos limpos.
O sonho de todo osteotécnico – como eu – era ter essa máquina...

Agora vamos à mais fantástica de todas!

Já demonstrei em outras postagens (como esta e esta) o quanto admiro a região europeia da Escandinávia. Tenho várias boas razões para isso: além de reunir algumas das nações mais ateias e por consequência inteligentes do planeta (o que por si só já explica seu sucesso), elas são também as melhores das melhores dentre praticamente todos os indicadores sociais imagináveis. Expectativa de vida, desenvolvimento humano, corrupção, pacificidade, taxa de mortalidade, direitos humanos, igualdade e LIBERDADE sexual (uhuuuw!)... isso tudo sem nenhuma das tão festejadas maiores economias do planeta. E olha que nem citei ainda a Nokia, a Volvo e – principalmente! – a Victoria Silvstedt!


Uma das melhores coisas que a Suécia já fez. Tá, ela não tem
muito a ver com a postagem... mas você não vai reclamar, né!?

E a algum tempo atrás eles novamente deram outra demonstração do quanto podem tornar o mundo mais bonito. Mais especificamente, os suecos. Criaram, na opinião deste blogueiro, a forma menos ambientalmente agressiva de se tornar um cadáver. Para uma criatura tão ruim, mas tão ruim que, nem quando morre, deixa o planeta em paz, é uma excelente saída.

O negócio consiste em congelar, esmigalhar e enterrar o corpo, num processo conhecido como promession, que usa uma técnica chamada freeze-dry. O primeiro passo é mergulhar o cadáver em nitrogênio líquido, a – 196ºC, o que o torna extremamente quebradiço. Em seguida, a peça congelada é colocada sobre uma esteira vibratória e, em questão de minutos, tudo vira pó. Equipamentos filtram a água e um ímã retira qualquer metal de próteses, obturações e etc. O que fica (aprox. 20kg a partir de um corpo de 80kg) é colocado em uma caixa de amido de batata ou milho e enterrado em uma cova rasa para que se plante uma árvore em cima. Ela vai absorver seu “corpo”, crescer com seus nutrientes e, desta forma, entre 6 meses a 1 ano, seus restos desaparecem por completo e você passa a fazer parte da própria árvore. Não é demais!?



A coisa é tão boa que já existem cemitérios americanos e ingleses que importaram a técnica. Vou ficar torcendo para que alguma empresa a traga para o Brasil por um preço razoável... como biólogo, adoraria virar uma árvore!


A coisa deve ficar particularmente legal para os fãs de Terminator... você será
estilhaçado como o T-1000! Só que não vai poder voltar mais não...


Agora imaginem... ao invés de ter aqueles jazigos imensos, caros e de absoluto mal gosto (ou alguém realmente acha aquelas imagens enormes, cheias de sujeira, mofo e cocô de pombo bonitas?) teríamos jardins familiares, com cada árvore representando um ente familiar e ainda ajudando a capturar o CO2 da atmosfera! FANTÁSTICO! Esses suecos...


Ao invés dessas lápides podres, velhas, sem cor e
caindo aos pedações...
... vamos ter um jardinzão colorido, cheio de vida
e no qual dá vontade de estar e passar um tempo.

Enquanto isso, 80% dos brasileiros são enterrados em cemitérios, e 75% destes não respeitam normas técnicas e poluem o ambiente...

Para saber mais, veja os links abaixo. Você terá algumas informações a respeito de:

01) opções para ir dessa para melhor sem dar uma última cutucada na ferida do mundo

02) problemas de superlotação de cemitérios em:
Manaus (AM)

03) outras curiosidades a respeito de você... morto, AQUI e AQUI também. Ah sim, e você também pode pensar em uma das 10 maneiras estranhas de se "viver" após a morte.

E se o seu problema não é exatamente a destinação do corpo, mas sim se vai ser julgado e condenado ou condecorado por seus atos na Terra, fique com as belíssimas palavras de um grande pensador:



5 comentários:

  1. Estou realmente impressionado com o método Promession... Nunca tinha ouvido falar nele. Q idéia inteligente!!!
    Os Suécos são fodas mesmo. Eles deveriam ser um povo-exemplo para toda sociedade humana... Se não fosse a desgraça da religião que toma a frente de tudo...

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  2. Belo post. O método Promession é mesmo impressionante. Quando for prefeito de Itajaí o trarei para cá.

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  3. Genial a ideia de fazer bosques para as familias! Tomara que essa realidade fique cada vez mais próxima de nós, com acessibilidade para todos.

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  4. No geral, gostei do post. No entanto, retiro minha opinião com relação a quem postou. Aparentemente, o blogger, professor e suposto filósofo ateu, assim como muitos outros detestáveis ateus pelo mundo, tem o típico pensamento de superioridade com relação à religião. Não pertenço a alguma religião, assim como, também, não sou ateia, apenas acho que cada ser humano tem sua maneira de pensar, racionalmente ou não. A religião nada mais é do que um conforto àqueles que precisam de algo para se segurar e lidar com a situações da vida, e não devemos desmerecer a inteligência de alguns religiosos, que podem ser muito mais inteligentes que você, com esse seu semblante de "quero ser uma pessoa culta". Sinceramente, amo a biologia, ainda estou no último ano do ensino médio, mas poucas vezes vi alguém tão narcisista como você, e, sim, eu sei o que significa narcisismo, Senhor Ciência. Por favor, não desonre a filosofia e a biologia com seu "achismo" ateu e ridículo. Todos temos nossos conhecimentos, nossa forma de pensar e de lidar com as coisas da vida. Outro detalhe: não há motivos para inserir aquela sueca plastificada neste post, desnecessário. Ainda assim, para um ateu, você se encontra muito seguro nos pilares dos sonhos em achar que, uma vez que o método Promession for inserido no Brasil, ele virá com um preço razoável, tendo em vista que o Play Station 4 veio a 4.000,00, imagine quanto seria para realizar tal método. Somente 23% da população sueca são de ateus. Na Suécia há escolas que não aceitam alunos não europeus e menos de 50% daqueles que terminam o liceu (não vou explicar o que é, já que você é tão admirador da Escandinávia e, portanto, deve saber o que é) vão para o ensino superior, que exige excelência. É fato que há muitos fatos bons sobre a Escandinávia e a Suécia, mas não vale a pena venerar algum país ou região, inclusive a sua própria, que foi exatamente o que fez em parte desta matéria. Ademais, boa matéria.

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    1. Disse tudo. Exatamente o q eu tava pensando.

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